Urubus: faxineiros da natureza
Publicado por parquedasaves em 29/08/2023
Atualizado em 19 de setembro de 2023
Tempo de leitura: 4 minutos
Por Willian Menq, biólogo, especialista em Ecologia e Comportamento de Aves e idealizador do canal Planeta Aves no Youtube
Os urubus são verdadeiros faxineiros alados! Devido aos seus hábitos necrófagos, essas aves mantêm o ambiente em que vivem limpo, eliminando desde carcaças até ossos, sendo responsáveis por eliminar até 95% dos cadáveres de animais na natureza.
Com isso, contribuem para prevenir a propagação de doenças, eliminando bactérias que poderiam adoecer ou matar muitos animais selvagens e domésticos. Estudos demonstraram que em áreas onde não há urubus, as carcaças levam até três ou quatro vezes mais tempo para se decompor.
Os urubus são aves classificadas na Ordem Cathartiformes, composta por uma única família, a Cathartidae. São aves exclusivas das Américas, classificadas em cinco gêneros e sete espécies. Todas as espécies possuem dieta necrófaga, possuindo porte médio a grande, além de asas largas e compridas. Uma das características mais marcantes do grupo é a ausência de penas na cabeça e pescoço.
Essa adaptação permite que essas aves enfiem a cabeça no interior das carcaças, sem sujarem suas penas. Além disso, existe uma rica vascularização nessas áreas nuas, que auxiliam na termorregulação.
Existem cinco espécies de urubus no Brasil. Com exceção do urubu-rei (Sarcoramphus papa), todas as outras apresentam coloração escura, variando do marrom-escuro ao negro, diferenciando-se principalmente no formato e coloração da cabeça.
O dimorfismo sexual é pouco pronunciado, com machos e fêmeas possuindo pesos e tamanhos quase idênticos.
Apesar das semelhanças com os abutres do Velho Mundo, os urubus não possuem parentesco com eles, sendo de linhagens evolutivas diferentes. As semelhanças ecológicas e morfológicas com os abutres não passam de um fenômeno chamado “convergência evolutiva”.
A dieta dos urubus é composta basicamente por animais mortos em diferentes estágios de decomposição e de diferentes tamanhos. Também consomem frutos de baixo valor nutritivo e matéria orgânica.
Ocasionalmente, caçam pequenos animais debilitados, feridos ou indefesos, ovos e filhotes de tartarugas ou aves, além de se alimentarem de peixes moribundos em poças d’água e diversos tipos de artrópodes.
O bico dessas aves é relativamente fraco em comparação com o de gaviões e águias. No entanto, o urubu-rei (S. papa) é uma exceção: ele possui um bico forte e afiado, capaz de rasgar a pele das carcaças de grandes mamíferos.
Devido à sua dieta necrófaga, os urubus possuem uma série de adaptações para evitar adoecer ou se intoxicar. Ao consumirem carne em estado de putrefação, seus estômagos secretam um suco gástrico que neutraliza as bactérias e toxinas presentes na carne em decomposição, muitas das quais são altamente tóxicas. Além disso, acredita-se que os anticorpos do sistema imunológico contribuam para torná-los imunes a doenças que afetariam outros animais.
Os urubus passam várias horas do dia planando, usando as correntes de ar quente para planar, gastando o mínimo de energia. Eles fazem movimentos ascendentes em espiral em largos círculos e voam dezenas de quilômetros atrás de alimento, muitas vezes compartilhando o céu com gaviões e águias.
O urubu-preto (Coragyps atratus) e o urubu-rei (S. papa) utilizam a visão para localizar os cadáveres no solo. Por outro lado, os três urubus do gênero Cathartes possuem uma impressionante sensibilidade olfativa, permitindo-lhes detectar até pequenos pedaços de carcaça de animal no interior de uma densa floresta. Por esse motivo, eles costumam sobrevoar florestas e encostas a alturas médias ou baixas, utilizando o olfato superdesenvolvido para identificar sua fonte de alimento.
Graças ao olfato mais apurado, sempre são os primeiros a encontrar a comida e muitas vezes são seguidos pelas demais espécies.