SOS Fauna – Formando Professores em Prol da Conservação do Parque Nacional do Iguaçu
Publicado por Educação Ambiental em 16/08/2018
Atualizado em 12 de novembro de 2024
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Um bioma é formado por um conjunto de fauna e flora similares que abrange uma extensa área contínua, com condições geográficas e climáticas semelhantes, identificáveis em escala regional. No Brasil existem seis biomas distintos: Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampa e Pantanal.
Cada um desses biomas possui diferentes tipos de vegetação e animais, o que confere uma rica biodiversidade com espécies únicas e singulares.
A biodiversidade refere-se às diferentes formas de vida existentes e suas interações, compreende a variabilidade de genes, espécies e ecossistemas de uma determinada região.
Um ambiente biodiverso é essencial para que as interações ecológicas ocorram de maneira equilibrada, fornecendo alimento, energia e condições favoráveis para a reprodução. Percebe-se a biodiversidade como um conjunto de elementos, no qual a vida se faz presente.
O que existe em comum entre esses biomas são as crescentes ameaças aos seus estados de conservação, as quais colocam em risco o equilíbrio das relações ecológicas e a existência das diferentes espécies que habitam o planeta.
Os biomas brasileiros estão vulneráveis às ações humanas, população a qual demanda por mais bens de consumo, sem se preocuparem com os limites dos recursos naturais.
As ameaças aos biomas são o desmatamento, a expansão urbana, o avanço da agropecuária, o tráfico e a caça de animais silvestres, como resultado há o aumento do risco de extinção de espécies, alterações climáticas, perda de habitat e de biodiversidade.
Um dos biomas mais afetados pelas pressões humanas é a Mata Atlântica. Originalmente, este bioma estendia-se ao longo da costa litorânea brasileira, atualmente, encontra-se pulverizado pelo território.
Um exemplo é o caso do Estado do Paraná, onde sua área territorial era coberta por 99% de Mata Atlântica, e no ano de 2013 restavam apenas 11,8% da mata original, conforme divulgado no Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica, elaborado pela Fundação SOS Mata Atlântica e pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).
Na região oeste do Paraná encontra – se o Parque Nacional do Iguaçu (PNI) o atrativo turístico mais visitado de Foz do Iguaçu-PR, conhecido pelas belíssimas Cataratas do Iguaçu, atrai milhares de visitantes todos os anos.
O PARNA Iguaçu vai muito além das Cataratas, abriga uma riquíssima biodiversidade e tem um importante papel para a sua conservação, pois, é o maior remanescente de Mata Atlântica no interior do Estado do Paraná e funciona, literalmente, como último abrigo para uma enorme quantidade de animais que tiveram seu território reduzido aos limites do parque.
Com o objetivo de mostrar para as pessoas os problemas que a Mata Atlântica sofre e a importância do PNI, foi criado em 2014 o SOS Fauna – Curso de formação continuada em educação ambiental, que tem como objetivo contribuir para a formação em educação ambiental de professores da educação básica envolvendo como tema gerador o Parque Nacional do Iguaçu e seus aspectos biológicos, ecológicos, culturais e sociais.
O SOS Fauna é um programa elaborado pelo Parque das Aves em parceria com o NúcleoRegional de Educação de Foz do Iguaçu e que conta com o apoio de diversos grupos e instituições, como a Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), o Parque Nacional do Iguaçu, o Instituto Chico Mendes de Conservação de Biodiversidade (ICMBio), Escola Parque, o IBAMA, e a 5a Cia Polícia Militar Ambiental do Paraná (PMAmb-PR).
Desde seu início já contou com a participação de 93 professores de 53 escolas da rede pública estadual de ensino, envolvendo mais de dois mil alunos nas suas quatro edições.
A Mata Atlântica é um dos biomas mais ricos em biodiversidade do mundo, ocupava mais de 1 milhão de quilômetros quadrados, estendendo-se ao longo da costa litorânea, do Ceará ao Rio Grande do Sul, passando por 17 estados brasileiros, além da Argentina e Paraguai.
Por sua vasta extensão, abrangia diferentes condições climáticas, o que possibilitou uma grande variedade de formações florestais e ecossistemas associados. A Lei 11.428/06, que dispõe sobre a utilização e proteção da vegetação nativa do bioma Mata Atlântica, considera integrante desse bioma as seguintes formações vegetais: floresta ombrófila densa, floresta ombrófila mista (mata de araucárias), floresta ombrófila aberta, floresta estacional semidecidual, floresta estacional decidual, manguezais, vegetação de restinga, campos de altitude, brejos interioranos e encraves florestais do nordeste.
É também um bioma que apresenta uma enorme diversidade de espécies de fauna e flora endêmicas, ou seja, que só existem nas aŕeas de ocorrência da Mata Atlântica e em nenhum outro lugar do planeta.
Possui mais de 20 mil espécies de plantas, sendo que 8 mil são endêmicas, possui cerca de 2.040 espécies de animais, sendo aproximadamente 1.020 de aves, das quais 188 são endêmicas.
Por sua rica biodiversidade, a Mata Atlântica é considerada um hotspot mundial, isto é, uma área caracterizada por uma grande riqueza e variedade natural, mas que, encontra-se ameaçada de extinção e apresenta taxas elevadas de degradação de habitats.
Em contraste com sua exuberância, a Mata Atlântica é uma das florestas tropicais mais ameaçadas do mundo, consequência de uma série histórica de degradações. A principal consequência da degradação de ambientes naturais é a perda da biodiversidade, que tem como impacto a extinção de espécies.
Os seres vivos possuem uma complexa rede de interdependência, o desaparecimento de uma espécie animal ou vegetal afeta as condições de vida de várias outras. É o caso do palmito-juçara (Euterpe edulis).
Sua semente e seu fruto servem de alimento para diversos mamíferos e aves, tal como, a jacutinga (Aburria jacutinga), a qual é uma ave endêmica da Mata Atlântica, e é uma das principais aves responsáveis pela dispersão de suas sementes.
A jacutinga é uma espécie ameaçada de extinção, por fatores como a caça ilegal e degradação do seu habitat, assim como o palmito-juçara, que corre risco de desaparecer da natureza por conta da extração ilegal.
A medida que a jacutinga desaparece, a dispersão das sementes do palmito decai e se somada ao processo ilegal de corte da palmeira tem-se a redução do número de indivíduos, comprometendo o fornecimento de frutos, comprometendo a fauna. É uma ação cíclica de danos ambientais que prejudicam o equilíbrio ambiental.
Para a população que vive na área originalmente ocupada pela Mata Atlântica, o que corresponde a 70% da população brasileira, a perda da biodiversidade tem impacto direto em suas vidas.
A biodiversidade é responsável pela disponibilidade hídrica, regulação do clima, produção de alimentos, madeira, fibras, óleos, descoberta de plantas com princípios ativos para a área da medicina, proteção e fertilização do solo; além de proporcionar belas paisagens e guardar um patrimônio histórico e cultural.
A Desde o início da colonização portuguesa a Mata Atlântica sofre com a exploração predatória de seus recursos naturais. Inicialmente, com a extração do pau-brasil, do qual era retirado um pigmento de coloração vermelha para tingir tecidos e a madeira era utilizada para carpintaria. Paralelamente à extração do pau-brasil, as atividades agrossilvipastoris começaram a impulsionar a economia, especialmente pelo ciclo da cana de açúcar.
Na região Nordeste, a mata era retirada para dar lugar aos engenhos de açúcar e canaviais. Essa atividade foi caracterizada pela monocultura, onde vastas extensões de florestas foram substituídas por plantações de uma única espécie, causando, por exemplo, empobrecimento do solo, redução da biodiversidade, pressão sobre corpos hídricos entre diversos outros problemas ambientais.
Com a queda nas exportações brasileiras do açúcar, começa o ciclo da mineração, a cobertura vegetal deu lugar às jazidas para extração do ouro. Com o declínio da mineração, inicia-se o ciclo do café e os impactos na Mata Atlântica continuam, com grandes aŕeas de florestas sendo degradadas.
Com o avanço do café, inicia-se o processo de modernização econômica e social do país, foram construídas ferrovias e a urbanização foi intensificada, tais atividades contribuíram com o desflorestamento da Mata Atlântica.
Posteriormente, a expansão industrial contribuiu com o aumento da retirada de recursos naturais, utilizados como matéria-prima, e o aumento das taxas de poluição das águas, do solo e do ar.
Atualmente, a Mata Atlântica segue ameaçada pelas interferências humanas que ocorrem de forma desordenada com a exploração de seus recursos naturais, a mudança do uso e ocupação da terra por áreas agrícolas, industriais e urbanas, e a ação criminosa de traficantes e caçadores de animais silvestres.
Hoje, os remanescentes de Mata Atlântica encontram-se espalhados pelo território brasileiro, estimativas indicam que apenas 7% da vegetação original esteja conservada em fragmentos com área superior a 100 hectares.
Este processo de fragmentação acarreta em significativas alterações para os habitats naturais, pois, neste processo a floresta que deveria ser um habitat contínuo é dividida em áreas menores que tornam-se mais ou menos isoladas. O entorno dessas novas áreas apresentam condições ambientais diferentes, na maioria caracterizado por atividades antrópicas como pastagens, plantações e construções.
As áreas fragmentadas e isoladas são afetadas pelo chamado efeito de borda, as árvores e animais que estão na borda do fragmento ficam expostos à fatores físicos, químicos e biológicos que resultam em alterações climáticas, ataque de pragas e entrada de espécies invasoras.
Esses impactos negativos podem levar ao desaparecimento do fragmento. Quanto menor o fragmento, mais sujeito ao efeito de borda ele estará.
Há grandes riscos de declínio populacional para as espécies de plantas e animais que vivem em fragmentos florestais isolados, visto que com o tempo a taxa de migração e dispersão é reduzida.
O deslocamento dos animais é limitado, há redução da disponibilidade de alimentos e a busca por parceiros reprodutivos é seriamente comprometida, podendo haver o cruzamento entre parentes, o que com o tempo resulta em indivíduos menos resistem às mudanças.
O Parque Nacional do Iguaçu foi criado em 10 de Janeiro de 1939 pelo Decreto de Lei Nº 1.935, assinado pelo presidente da república Getúlio Vargas, unindo ao Parque Nacional Iguazú na Argentina pelo Rio Iguaçu, formando o mais importante contínuo biológico do Centro-Sul da América do Sul.
Localizado na região oeste do Paraná, o PARNA Iguaçu vai muito além das Cataratas. São aproximadamente 500.000 pessoas que residem no entorno do PNI, distribuídas em 14 municípios vizinhos: Foz do Iguaçu, São Miguel do Iguaçu, Santa Terezinha, Medianeira, Matelândia, Céu Azul, Vera Cruz do Oeste, Ramilândia, Santa Tereza do Oeste, Lindoeste, Santa Lúcia, Capitão Leônidas Marques, Capanema, Serranópolis do Iguaçu.
A história do parque começou em 1916, após a passagem de Santos Dumont pela região, que contribuiu para que as terras em torno das Cataratas do Iguaçu se tornassem pública perante ao estado do Paraná.
Em 1986 foi reconhecido como Patrimônio Mundial Natural pela Unesco devido às Cataratas do Iguaçu e pela floresta preservada. No ano de 2011 as Cataratas do Iguaçu foi eleita umas das 7 Maravilhas da Natureza por meio de um concurso internacional promovido pela Fundação New Seven Wonders.
Mesmo com toda sua beleza natural o parque é o último e mais importante remanescente de Floresta Estacional Semidecidual do Brasil, representa mais de 1% de toda cobertura original do Estado com 185 mil hectares do lado brasileiro e outros 65 mil hectares do lado argentino, totalizando 250 mil hectares de bioma Mata Atlântica.
Essa área abriga 250 espécies de árvores, mais de 550 espécies de aves, 120 de mamíferos, 635 espécies de borboletas, 79 de répteis e 55 de anfíbios.
Essa diversidade de espécies estão suscetíveis ao tráfico de animais silvestres, a caça ilegal e a extração ilegal, os quais estão ligados a diminuição do número de populações e a extinção local de fauna e flora ameaçados na Mata Atlântica.
A diminuição das populações locais, pode afetar as espécies guarda-chuva, ou seja, espécies que são capazes de atuar em uma série de relações ecológicas, como competição, predação e dispersão de sementes. Esta atividade, vem sendo a preocupação de diversas comunidades ambientais.
O SOS Fauna surgiu com a intenção de fomentar as discussões sobre a importância do Parque Nacional do Iguaçu e de incentivar a visita dos alunos da rede pública estadual de ensino ao Parque das Aves, já que no ano de 2013 somente 8 colégios estaduais, dos 35 do município, visitaram o zoológico.
A primeira edição do curso ocorreu em 2014 em parceria com o Núcleo Regional de Educação de Foz do Iguaçu (que abrange 9 municípios) e o curso de Pedagogia da Unioeste – campus Foz do Iguaçu – foi elaborada uma formação para professores do ensino médio da rede pública de ensino, para que desenvolvessem com os estudantes atividades antes e após as visitas educativas. Nesta primeira edição os encontros eram de 8 horas diárias, uma vez por semana ao longo do mês de março.
Os conteúdos trabalhados com os professores envolviam temas sobre educação ambiental, história e a importância dos zoológicos, conservação de espécies de fauna e flora, contexto histórico do Parque Nacional do Iguaçu e estratégias metodológicas para o desenvolvimento de projetos.
Além das palestras ministradas, os participantes realizaram uma visita de campo à uma propriedade rural do Sr. Alexio, localizada no município de Santa Terezinha de Itaipu, próxima ao Parque Nacional do Iguaçu, o qual tem por atividade econômica a produção e comercialização de produtos orgânicos.
O Sr. Aleixo fomenta diálogos com os participantes, apresentando de forma específica os desafios de manter uma propriedade tão próxima a uma unidade de conservação.
A primeira edição foi concluída no ano de 2015, devido a greve na rede de ensino, com carga horária total de 24 horas. O encerramento ocorreu no Parque das Aves, com uma mostra pedagógica, na qual os alunos apresentaram os projetos que foram desenvolvidos ao longo do curso mostrando a importância da conservação do PNI ao público visitante.
Em 2016, ocorreu a segunda edição do SOS Fauna, que manteve o objetivo de envolver as escolas da rede pública estadual de ensino e de sensibilizar a comunidade vizinha do Parque Nacional do Iguaçu acerca de questões que ameaçam a sua biodiversidade, como tráfico, caça de animais silvestres, extração ilegal da flora e poluição ambiental.
Nesta edição, o curso teve como parceria o NRE e o curso de ciências biológicas da Unioeste – campus Cascavel. Os encontros foram ao longo do ano, tendo como temas centrais o contexto histórico do PNI, principais ameaças à sua biodiversidade e a relação entre as comunidades do entorno da unidade de conservação com o PNI.
A grande novidade desta edição era a ida do Departamento de Educação Ambiental do Parque das Aves até as escolas, ministrando uma palestra com os alunos, para falar sobre os problemas que o Parque Nacional do Iguaçu sofre, além da aplicação de questionários para ver qual era a percepção dos alunos antes das intervenções educativas dos professores, e após se trabalhar os contextos do Parque Nacional do Iguaçu.
Na terceira edição em 2017, os encontros continuam acontecendo ao longo do ano, sempre pelas manhãs, uma vez por mês. Os temas das palestras envolviam os contextos históricos do Parque Nacional do Iguaçu, e a metodologia para a elaboração dos projetos,
Atualmente o curso conta com a participação de 22 pessoas, entre professores e diretores de 10 escolas da rede pública estadual de ensino, além de servidores do núcleo regional de educação.
Os professores ao longo do SOS respondem a quatro questionários de pesquisa, que são aplicados no início do curso, durante o curso de formação, no encerramento, e um último no ano seguinte, para avaliar como está a percepção deles sobre o que foi trabalhado ao longo da formação, e se aplicam em sala de aula temas sobre o Parque Nacional do Iguaçu.
Hoje o SOS Fauna tem encontros mensais ao longo do ano, e está estruturado em três módulos, que são:
Módulo 1: Parque Nacional do Iguaçu: aspectos ecológicos, sociais e culturais. Neste módulo os participantes são imersos sobre o contexto histórico do Parque Nacional do Iguaçu, a importância para a fauna como um dos últimos remanescentes de mata atlântica, como é feito o trabalho da Polícia Militar Ambiental e quais são os desafios que eles enfrentam no combate ao tráfico, caça e a proteção do Parque Nacional do Iguaçu.
Módulo 2: Educação Ambiental crítica na escola: aspectos teóricos e práticos. Neste módulo, os participantes conhecem a relação que o turismo tem em uma unidade de conservação, e é quando se dá o início da elaboração dos projetos, que serão desenvolvidos ao longo do curso.
Módulo 3: Desenvolvimento de projetos educativos na escola. A intenção do curso não é fazer com que os participantes apenas assistam as palestras, e sim que todo o conteúdo seja aplicado em sala de aula, por isso, ao longo de todo o curso os professores elaboram um projeto com uma turma de ensino médio, envolvendo os alunos em todas as etapas, e ao final do curso, os estudantes participam da mostra pedagógica, na qual eles apresentam os seus projetos para os visitantes no Parque das Aves.
Além das palestras, os participantes fazem a saída de campo a propriedade rural do Sr. Aleixo onde é possível compreender os desafios de ter uma propriedade rural próxima a uma importante unidade de conservação.
As recorrentes ameaças à Mata Atlântica, colocam em risco de desaparecer uma rica biodiversidade de espécies animais e vegetais. Mas, ainda há esperanças para este bioma ameaçado de extinção.
Através do SOS Fauna é possível sensibilizar professores e alunos sobre a importância do Parque Nacional do Iguaçu.
Assim, a formação continuada em educação ambiental de professor m es da educação básica contribui com a multiplicação de ações em prol da conservação da biodiversidade.
O Parque das Aves, um centro de resgate, abrigo e conservação de aves da Mata Atlântica e o atrativo mais visitado de Foz do Iguaçu depois das Cataratas, completa 30 anos de atuação em 2024. Como é uma instituição privada, os visitantes promovem a continuidade do trabalho do atrativo através da visita ao Parque, consumo nos restaurantes do Complexo Gastronômico e compras na Loja de souvenirs.