Saindo do ninho

Publicado por parquedasaves em 22/12/2020

Atualizado em 4 de fevereiro de 2025

Tempo de leitura: 4 minutos

Por: Ben Phalan

Excelentes notícias do Espírito Santo: os dois filhotes de saíra-apunhalada voaram com sucesso e seguiram seus pais até a copa da floresta

Após o nascimento no início de novembro de dois filhotes de uma das aves mais raras e ameaçadas do Brasil, os animais têm estado sob constante vigilância. A saíra-apunhalada é encontrada apenas na Mata Atlântica do Espírito Santo e em nenhum outro lugar do mundo.

A ave está criticamente ameaçada, porque a maior parte das florestas primárias da região desapareceram. A área foi desmatada ao longo dos séculos para o cultivo de lavouras, e hoje restam apenas alguns fragmentos. A saíra-apunhalada se alimenta de insetos no dossel da floresta, saltando  de galho em galhos para encontrar seu alimento entre os líquens.

Sem grandes áreas de florestas bem preservadas, ela está a caminho de desaparecer para sempre.

saíra-apunhalada em um galho retorcido na Mata Atlântica, com plumagem preta e branca e um destaque vermelho na garganta. O fundo nublado cria um contraste suave com os tons naturais da floresta.

Uma saíra-apunhalada pegando inseto para levar até o ninho

As saíras-apunhaladas precisam de toda ajuda possível, por isso uma equipe do Programa de Conservação da Saíra-Apunhalada, com o apoio do Parque das Aves e outras organizações, tem estado na mata monitorando o ninho todos os dias.

Eles tinham outra função importante: espantar qualquer predador que se aproximasse do ninho. Na Mata Atlântica, há muitos predadores que poderiam comer filhotes de um ninho, justamente por isso a maioria dos ninhos de aves da floresta tropical acabam sendo predados.

Firmes nessa missão, a equipe conseguiu espantar bandos de macacos, tucanos e até mesmo um piolhinho-serrano, um passarinho de pequeno porte, que um dia se aproximou do ninho e bicou os filhotes! Suspeita-se que o piolhinho-serrano poderia estar tentando tirar penugem para construir seu ninho.

Outro desafio foram as tempestades. Em dois dias, houve ventos muito fortes, onde a equipe precisou deixar a floresta, devido ao risco de queda de árvores. A árvore  que abrigava o ninho está no topo de um cume, o que a fez balançar para frente e para trás na tempestade.

Depois disso, houve ainda uma chuva torrencial, de cima para baixo. Toda a equipe ficou muito preocupada com o ninho, mas no dia seguinte, quando chegaram cedo no local, constataram que os filhotes estavam bem, com as saíras adultas chegando para mantê-los alimentados com insetos. Isso trazia uma alegria imensa a equipe de campo pois uma das hipóteses para o declínio da espécie é que o alimento dos insetos também sofreu um declínio nas florestas fragmentadas.

Vista da Mata Atlântica com árvores altas e densas, arbustos cobertos por epífitas e um céu azul com nuvens brancas ao fundo. A luz do sol atravessa a copa das árvores, destacando diferentes tons de verde.

A Mata Atlântica de Vargem Alta

Os filhotes cresceram rapidamente, e em pouco tempo começaram a exercitar suas asas. E assim, antes mesmo de parecer já estavam prontos, eles decidiram que era hora de deixar o ninho! Ainda com penugens brancas na cabeça, primeiro uma, depois o outro filhote aventurou-se a sair do ninho e entrar em um galho próximo.

Eles eram ingênuos e vacilantes, e não parecia que seriam capazes de voar. Mas voaram, sim! Primeiro um, e depois o outro, voaram para fora do ninho para juntar-se ao bando das outras cinco saíra e sair pelas copas das árvores. Eles são muito bem-vindos a esta pequena população. Agora a equipe tem o desafio de tentar seguir o banda para que se possa aprender mais sobre seus movimentos e seu comportamento forrageiro, que é a busca pelo alimento. 

Seria trágico deixar estas aves desaparecerem.

Esta espécie sobreviveu por milhões de anos, mas agora está em risco de extinção, pois os humanos fizeram mudanças bruscas na paisagem da Mata Atlântica.

A extinção é para sempre, mas com esforço suficiente  podemos salvar as espécies da extinção. É por isso que o Parque das Aves adotou a missão de trabalhar para salvar as espécies de aves mais ameaçadas de extinção da Mata Atlântica, o que inclui o apoio a projetos como este.

Pequeno sapo de cor vibrante laranja sobre solo úmido da Mata Atlântica, próximo a uma folha verde e preta. Sua pele brilhante e olhos escuros contrastam com o ambiente ao redor.

Além da saíra, existem muitas outras espécies endêmicas e ameaçadas na mesma região, incluindo o sapinho-pingo-de-ouro

O Programa de Conservação da Saíra-Apunhalada é uma parceria do Instituto Marcos Daniel (IMD) com a Transmissora Caminho do Café (TCC), e atende uma solicitação dos órgãos ambientais estadual (IEMA), federal (IBAMA) e comunidades, que solicitaram à TCC patrocínio para conservação da espécie. Você pode apoiar o programa com uma doação ao IMD aqui – 100% das doações vão diretamente para o monitoramento e proteção da espécie no campo: https://bit.ly/3WIwfHm

Sobre o Parque das Aves

O Parque das Aves, um centro de resgate, abrigo e conservação de aves da Mata Atlântica e o atrativo mais visitado de Foz do Iguaçu depois das Cataratas, completou 30 anos de atuação em 2024. Como é uma instituição privada, os visitantes promovem a continuidade do trabalho do atrativo através da visita ao Parque, consumo nos restaurantes do Complexo Gastronômico e compras na Loja de souvenirs.

 

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