Resgate e Abrigo de Animais pelo Parque das Aves

Publicado por parquedasaves em 04/03/2020

Atualizado em 21 de agosto de 2024

Tempo de leitura: 5 minutos

Por: Ligia Rigoleto Oliva, Médica Veterinária e Chefe da Divisão de Veterinária do Parque das Aves

Quem se interessa por natureza provavelmente lê reportagens ou segue perfis nas redes sociais de instituições que resgatam animais, e o que podemos notar é que diariamente muitos animais são vítimas de atropelamentos, comércio ilegal, que ocasionam inclusive filhotes órfãos precisando de cuidados. Mas o que muita gente não sabe é o importante papel dos zoológicos no resgate de animais silvestres nessas situações.

Lígia, médica veterinária, realizando a cirurgia de um martim-pescador-grande (Megaceryle torquata) que engoliu um anzol

O Art. 225 da Constituição Federal de 1988 atribui ao Poder Público zelar pela fauna e flora, mas hoje não há em todos os municípios órgãos públicos de recepção e atendimento de animais, como os chamados Centros de Triagem e/ou Reabilitação, por exemplo. Por isso, o apoio às instituições governamentais vinculadas às áreas de meio ambiente e manejo de fauna é um dos importantes papéis dos zoológicos em todo Brasil, no que tange principalmente o atendimento veterinário de emergência e acolhimento de animais.

Sabiá-laranjeira (Turdus rufiventris) com sinais de maus-tratos

Os animais são encontrados nos mais variados graus de debilidade, desde filhotes de passarinhos encontrados sem os pais, até grandes animais feridos, vítimas de atropelamentos nas rodovias, como antas, tamanduás e capivaras. Os zoológicos proporcionam a esses animais um ambiente com atendimento especializado e atenção de diversos especialistas, como biólogos, médicos veterinários e zootecnistas, que trabalham e estudam diariamente para oferecer conforto e bem-estar.

O Parque das Aves recebe mensalmente diversas aves de vida livre resgatadas necessitando de cuidados, e nesses casos os esforços são voltados para o retorno dos animais ao seu ambiente de origem.

Chegada de periquitos apreendidos

Luta diária

Talvez você tenha acompanhado em nosso perfil o caso de um martim-pescador-grande (Megaceryle torquata) resgatado pela Polícia Ambiental, próximo ao Rio Iguaçu, com uma linha de pesca saindo pelo bico. O animal recebeu atendimento imediato no Parque, e constatamos que havia um anzol na outra ponta da linha, enganchada no interior de seu estômago. Prontamente nossa equipe avaliou o caso via imagens radiográficas e verificamos a necessidade de remoção cirúrgica. Após o período de recuperação, o animal foi devolvido com auxílio da Polícia Ambiental que realizou o resgate, no local onde foi encontrado, podendo voltar a desempenhar seu papel na natureza.

 

O retorno a sua área de ocorrência natural é o final da história que queríamos para todos os animais que recebemos, mas nem sempre é o que acontece. Alguns animais não podem fazer este caminho novamente, pois apresentam alguma sequela que poderia comprometer seu desempenho no ambiente, como voar, fugir de predadores e/ou se alimentar sozinho.

Quando não é possível o retornar ao ambiente onde naturalmente viviam, esses animais encontram no Parque das Aves um lar, recebendo todos os cuidados que necessitam. Como é o caso da Valentina, uma fêmea de papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva) que foi resgatada em uma apreensão realizada pela Polícia Ambiental. A ideia de quem a retirou de seu habitat natural era vendê-la de forma ilegal, caso ela sobrevivesse. Quando chegou ao Parque das Aves, Valentina era filhote, com aproximadamente 30 dias de vida (fase na qual ainda estaria no ninho sendo criada pelos pais), e possuia um ferimento na asa direita, com perda de uma parte da asa e, infelizmente, apresentava ainda uma perfuração no papo (que é a bolsinha que armazena comida, e que todos os psitacídeos têm).

Papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva), chamada de Valentina, quando era filhote

Tudo isso parece, e é, muito ruim, mas após algumas cirurgias e cuidados intensos da nossa equipe, Valentina está muito bem, e cheia de personalidade. Todos que nos visitam podem conhecê-la na Ilha dos Papagaios, logo no início da trilha do Parque das Aves, localizado em Foz do Iguaçu, ao lado das Cataratas Brasileiras. Ela se tornou a embaixadora de sua espécie e sua história é usada para sensibilizar os mais de 930 mil turistas que nos visitam anualmente sobre as consequências de se comprar animais no comércio ilegal.

Valentina adulta morando no Parque das Aves

O atendimento de animais resgatados ocorre diariamente em zoológicos no mundo todo, como no caso das queimadas que ocorreram recentemente na Austrália e que dizimaram populações de fauna local. Milhares de animais foram resgatados e encaminhados para zoológicos, onde receberam atendimento veterinário e abrigo no intuito de tratar os ferimentos e, posteriormente, se possível, devolvê-los ao seu habitat natural.

Lígia, médica veterinária, analisando um raio X

Perseverança

Infelizmente, não é todo mundo que conhece essa parte do trabalho feito pelos zoológicos, mas há um trabalho diário para que os animais permaneçam em suas áreas de ocorrência, seja dando suporte no atendimento de animais resgatados ou desenvolvendo e amparando projetos que trabalham com sua conservação.

Apreensão de filhotes de papagaios para o comércio ilegal

Os zoológicos desempenham um excelente papel de apoio ao resgate de animais, mas junto disso devemos também trabalhar de forma incansável a educação ambiental dentro desses ambientes e nas comunidades, disseminando informações sobre o tráfico de animais e a preservação do meio ambiente, assim como a exigência de políticas públicas na área ambiental. Somente assim vamos estabelecer uma coexistência respeitosa com a natureza e reduzir ao máximo o impacto de nossas atividades no planeta.

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