Projeto Charão e Parque das Aves apresentam base de pesquisa no Dia Nacional da Araucária
Publicado por Parque das Aves em 24/06/2022
Atualizado em 8 de novembro de 2024
Tempo de leitura: 7 minutos
Em comemoração ao dia 24 de junho, Dia Nacional da Araucária, o Parque das Aves e o Projeto Charão estão inaugurando oficialmente a Base Altomontana, dentro da Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Papagaios de Altitude.
Localizada em Urupema, Santa Catarina, a Base Altomontana serve para atividades de pesquisa e conservação do único papagaio migratório no Brasil: o papagaio-charão (Amazona pretrei).
Com sede em Carazinho, no Rio Grande do Sul, o Projeto Charão foi fundado pelo casal de pesquisadores Nêmora Prestes e Jaime Martinez, além de outras instituições.
Apesar da construção da Base Altomontana ter ficado pronta em 2020 e, desde então, já ter acolhido muitos pesquisadores e abrigado diversas atividades, o Projeto Charão e o Parque das Aves decidiram inaugurá-la formalmente em 2022.
A ideia é celebrar o Dia Nacional da Araucária (Araucaria angustifolia), árvore mais importante da reserva onde a base está instalada, além de comemorar uma parceria de sucesso entre duas instituições que lutam para conservar aves em risco de extinção.
Em 2018, o Projeto Charão criou a Reserva Particular do Patrimônio Nacional (RPPN) Papagaios de Altitude.
Essa área florestal, que tem 46 hectares, é o lar temporário ou permanente de inúmeras espécies de animais, que lá encontram diversos tipos de vegetais para se alimentar. O principal deles é o pinhão, semente produzida pela araucária, uma árvore da Mata Atlântica, que também é conhecida como pinheiro-brasileiro ou pinheiro-do-paraná.
Paloma Bosso, diretora técnica do Parque das Aves, que visitou o local em janeiro e em maio de 2019, afirma que, para que o monitoramento de fauna e de flora na reserva fossem mais efetivos, era importante criar uma estrutura física dentro da reserva. Assim, o Parque das Aves patrocinou a construção desse espaço físico.
“Apoiamos os nossos parceiros do Projeto Charão para que pudessem investir na construção da base. Assim, é possível aumentar a eficácia das pesquisas que eles realizam com os papagaios, além de ampliar a abrangência das ações educativas, tanto com a comunidade local como com os turistas que visitam a região no período do inverno.” Comenta Paloma Bosso – Diretora Técnica do Parque das Aves
Então, em 2019, o Parque das Aves patrocinou a construção dessa estrutura, que foi batizada de Base Altomontana. Infelizmente, não foi possível acompanhar de perto a construção, pois todo o processo aconteceu no auge da pandemia. No entanto, Nêmora e Jaime sempre enviavam atualizações para que a equipe do Parque das Aves pudesse participar do processo junto com eles.
Para Ben Phalan, chefe de conservação do Parque das Aves, que foi visitar a base em abril de 2022, foi emocionante vê-la totalmente pronta e em operação.
Na ocasião, ele também pôde apreciar um momento único, que inspirou Jaime e Nêmora a criarem o projeto:
“Fiquei sem palavras ao presenciar o voo de mais de 20 mil papagaios pousando nas araucárias de Urupema no final da tarde, horário em que se encontram para passar a noite! Observar a revoada do papagaio-charão me fez pensar que todos os esforços para conservar a biodiversidade realmente valem a pena!” Expressa Ben Phalan – Chefe de Conservação do Parque das Aves
Foi justamente no planalto de Santa Catarina, um dos maiores remanescentes de florestas de araucária do Brasil, que o Projeto Charão surgiu, em 1991.
Na época, Jaime e Nêmora, ambos biólogos apaixonados pela natureza, descobriram um bando de papagaios-charão no Rio Grande do Sul. No entanto, eles notaram que os papagaios desapareciam misteriosamente da área entre os meses de março e julho. Completamente intrigados com aquele sumiço, os dois começaram a procurar as aves por toda parte.
Depois de muita busca, eles finalmente descobriram que os papagaios migravam para as florestas de araucárias em Santa Catarina nos meses mais frios, à procura do pinhão. Então, o casal decidiu que seria muito importante conhecer melhor e proteger esse misterioso viajante!
E foi assim que, por mais de 30 anos, os dois mergulharam nas atividades de pesquisa da espécie. O trabalho é fruto da parceria entre a Universidade de Passo Fundo (UPF) e a Associação Amigos do Meio Ambiente (AMA), de Carazinho (RS).
Então, após muitos anos de pesquisa, veio a ideia de criar uma área protegida para abrigar as araucárias onde os papagaios-charão se alimentam. Porém, criar uma reserva não é um processo fácil, e só foi possível porque muitas pessoas do Brasil fizeram doações. Além disso, houve o apoio essencial de instituições como a União Internacional da Conservação da Natureza (UICN), da Holanda, e o Rainforest Trust, dos Estados Unidos.
Por fim, a equipe do projeto conseguiu adquirir a área onde está localizada a RPPN Papagaios de Altitude! Assim, em 23 de fevereiro de 2018, o Instituto Chico Mendes para a Conservação da Biodiversidade (ICMBio) oficializou a criação da área, por meio da publicação de uma portaria no Diário Oficial da União.
As florestas de araucária também são conhecidas como Mata de Araucária ou, ainda, como Floresta Ombrófila Mista. Independente do nome, essa é uma paisagem típica da Mata Atlântica do sul do Brasil. Inclusive, várias espécies da fauna de flora que vivem ali são endêmicas – ou seja, ocorrem apenas nesse tipo de floresta.
Em resumo, a conexão entre a araucária e o papagaio-charão se dá pela semente da árvore, conhecida como pinhão, que serve de alimento para essa e muitas outras espécies. De fato, essa conexão é tão forte que a espécie migra centenas de quilômetros todos os anos para obter esse alimento, indo do Rio Grande do Sul para Santa Catarina.
No entanto, as florestas de araucárias estão praticamente dizimadas, restando apenas 3% de sua área original. Inclusive, segundo a Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida (Apremavi), as florestas de araucária ocupavam 200 mil quilômetros quadrados, dos quais restam apenas 6 mil! Uma situação preocupante, certo?
Assim, com o desmatamento, o principal alimento do papagaio-charão e de vários outros animais durante o período de outono-inverno (quando não há muitas flores e frutos disponíveis) fica escasso. Então, todas as espécies que dependem da floresta de araucária para obter abrigo e alimento podem correr sério risco de extinção.
Infelizmente, a população atual do papagaio-charão está vulnerável à extinção e possui tendência ao declínio. Além disso, o papagaio-de-peito-roxo (Amazona vinacea), que também se alimenta de pinhões, se encontra na mesma categoria de ameaça.
Portanto, é fundamental conservar o que resta dessas florestas que, além de essenciais para a fauna da região, são simplesmente belíssimas!
Para enfrentar essa ameaça, além de monitorar a área da reserva, o Projeto Charão segue aprimorando suas atividades de pesquisa e de educação ambiental. Assim, favorecem tanto a conservação do papagaio-charão quanto da floresta de araucária. Por isso, o Parque das Aves se orgulha de ser parceiro de uma causa tão nobre!
Quer ajudar esse projeto incrível? Então, clique aqui para fazer uma doação e ajude a oferecer um ninho para papagaios que não encontraram uma árvore adequada!
Em em sua próxima visita a Foz do Iguaçu, que tal visitar o Parque das Aves e conhecer o papagaio-charão ao vivo? Inclusive, estamos em frente às Cataratas do Iguaçu! Veja mais detalhes sobre a visita aqui.
O Parque das Aves, um centro de resgate, abrigo e conservação de aves da Mata Atlântica e o atrativo mais visitado de Foz do Iguaçu depois das Cataratas, completa 30 anos de atuação em 2024. Como é uma instituição privada, os visitantes promovem a continuidade do trabalho do atrativo através da visita ao Parque, consumo nos restaurantes do Complexo Gastronômico e compras na Loja de souvenirs.