Pererecas ameaçadas de extinção chegam ao Parque das Aves

Publicado por Parque das Aves em 04/07/2022

Atualizado em 25 de janeiro de 2023

Tempo de leitura: 8 minutos

O Parque das Aves se tornou a primeira instituição do mundo a abrigar um casal de pererecas da espécie Pithecopus rusticus!

As pererecas, que são exclusivas da Mata Atlântica, se tornaram parte de um programa de reprodução sob cuidados humanos.

O casal veio do município de Água Doce, em Santa Catarina, divisa com o Paraná, para o Parque das Aves, em Foz do Iguaçu (PR), no início de abril.

A operação é o início do programa de conservação desse anfíbio, considerado criticamente em perigo de extinção. O trabalho é fruto da parceria entre a Universidade Federal de Santa Maria, o RAN-ICMBio, o Parque das Aves e a Reserva Paulista (Zoo de São Paulo).

As pererecas Pithecopus rusticus, que são chamadas de perereca-rústica por alguns pesquisadores, ainda não possuem um nome popular estabelecido.

Além disso, elas são endêmicas do Brasil. Então, só existem em nosso país – e podem ser encontradas, exclusivamente, em uma pequena área de campos de altitude no bioma Mata Atlântica.

Um grande salto para as pererecas

Atualmente, a única população conhecida da espécie está em uma área altamente impactada pelo homem – próxima de uma estrada, com presença de gado e plantações.

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O ambiente natural das pererecas é uma pequena área na cidade de Água Doce (SC), impactado por uma estrada, presença de plantações e de gado. Foto: Equipe do Parque das Aves.

Segundo Paloma Bosso, diretora técnica do Parque das Aves, por conta dessas ameaças e por ter poucos indivíduos no ambiente natural, o plano é manter uma população de segurança.

Assim, será possível facilitar a reprodução dos animais em um espaço seguro para, futuramente, enviar seus descendentes ao local de origem. A ideia é reforçar a população em declínio ou introduzir um novo grupo de indivíduos no ambiente natural.

Com o apoio do Parque Nacional do Iguaçu, as pererecas chegaram à Foz do Iguaçu de helicóptero, vindo do aeroporto de Chapecó – SC, através do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade).

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As pererecas vieram de helicóptero de Água Doce (SC) para Foz do Iguaçu (PR). Foto: Equipe do Parque das Aves.

Por enquanto, os visitantes do Parque das Aves ainda não terão acesso à sala das pererecas. Inicialmente, os animais estão sendo mantidos na área interna da instituição, sob os cuidados da equipe técnica.

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Chegada das pererecas ao Parque das Aves. Foto: Equipe do Parque das Aves.

Pererecas recém-descobertas pela ciência

Uma equipe de pesquisadores e estudantes da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), em parceria com outras universidades do Brasil, realiza as pesquisas sobre a espécie.

É a professora Elaine Lucas, da UFSM, que coordena as atividades de pesquisa em campo, que acontecem desde 2009, quando a população das pererecas foi descoberta. Então, no ano 2014, o anfíbio foi formalmente descrito pela ciência como uma nova espécie.

No entanto, a espécie já está criticamente em perigo de extinção, segundo a Portaria do Ministério do Meio Ambiente nº 148, de 07/06/2022, que atualizou a Lista Nacional de Espécies Ameaçadas de Extinção.

Desde a sua descoberta, apesar das buscas pela espécie na região, houve registro de poucos indivíduos, e somente em uma localidade. Assim, foi necessário tomar uma atitude urgente. Por isso, de acordo com Elaine, essa parceria entre as instituições pode assegurar o futuro deste pequeno anfíbio!

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Pererecas em seu habitat natural: um pequeno fragmento do bioma Mata Atlântica. Foto: Equipe do Parque das Aves.

Abrigo seguro para a reprodução das pererecas

Em agosto de 2020, uma oficina com especialistas avaliou as necessidades de conservação das espécies de anfíbios ameaçados do Brasil, entre elas a Pithecopus rusticus

O encontro foi organizado em conjunto pela Amphibian Ark, instituição dedicada à conservação de anfíbios por meio da reprodução sob cuidados humanos, e pelo Grupo de Especialistas de Anfíbios do Brasil (ASG Brasil).

Em resumo, o ASG Brasil é o núcleo brasileiro do Amphibian Specialist Group (ASG) da Comissão para Sobrevivência das Espécies (Species Survival Commission, SSC), pertencente à União Internacional para Conservação da Natureza (UICN), a mais influente organização de conservação da natureza do mundo, que reúne os melhores profissionais da área. 

Juntos, os especialistas identificaram que a reprodução em um espaço seguro, fora do ambiente natural, ajudaria a conservar a espécie. 

Os anfíbios são o grupo de vertebrados mais ameaçados do mundo, mas as ações de conservação para protegê-los ainda são muito escassas.

Por isso, estamos muito felizes que o Parque das Aves respondeu a nosso convite e se juntou aos esforços para conservar os anfíbios no Brasil!

(Cybele Lisboa, bióloga da Reserva Paulista e presidente do ASG-Brasil)

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Macho do casal de pererecas ameaçadas de extinção. Foto: Equipe do Parque das Aves.
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Fêmea do casal de pererecas ameaçadas de extinção. Foto: Equipe do Parque das Aves.

Um plano de conservação para anfíbios

Em 2022, a professora Elaine Lucas destinou um casal desses animais ao Parque das Aves, mediante autorização emitida pelos órgãos responsáveis.

A ação faz parte do planejamento para proteger a espécie, liderado pelo RAN (Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Répteis e Anfíbios do ICMBio – Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade).

Para isso, o RAN coordena o Plano de Ação Nacional para Conservação de Répteis e Anfíbios Ameaçados da Região Sul do Brasil (PAN Herpetofauna do Sul), que iniciou suas atividades em 2012.

(Saiba mais sobre como funciona um PAN clicando aqui).

Em resumo, o PAN é uma ferramenta oficial que organiza prioridades e ações específicas para proteger essa e outras espécies de répteis e anfíbios em risco de extinção, bem como suas áreas de ocorrência.

Assim, uma dessas ações inclui o desenvolvimento de um programa de conservação ex-situ, ou seja, de reprodução sob cuidados humanos.

(Tiago Vieira, coordenador do PAN Herpetofauna do Sul e representante do ICMBio)

Por fim, de acordo com Paloma, até o momento, não existiam outros indivíduos da espécie sob cuidados humanos. Assim, a chegada do casal ao Parque das Aves é um marco histórico para o programa de conservação da espécie – e, consequentemente, para a sobrevivência da espécie!

Cuidados especiais para uma espécie tão rara

No Parque das Aves, a equipe técnica que está cuidando dos animais oferece alimentação duas vezes por semana.

Como são animais insetívoros, oferecemos grilos, baratas, tenébrios e outros pequenos invertebrados, oriundos de nosso biotério. Estes insetos são suplementados com vitaminas e minerais, garantindo uma alimentação completa e balanceada.

(Henrique Tavares – Divisão de Nutrição Animal do Parque das Aves)

Além de oferecer nutrição adequada, a equipe técnica simulou as condições de temperatura, umidade e fotoperíodo semelhantes às do ambiente natural das pererecas.

Para isso, além da iluminação natural, utilizam uma lâmpada emissora de raios do tipo ultravioleta B, que favorece as funções fisiológicas das pererecas.

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O ambiente das pererecas foi especialmente criado para as necessidades da espécie, imitando o seu ambiente natural na Mata Atlântica. Foto: Equipe do Parque das Aves.

O nosso trabalho é desenvolver um ambiente compatível com aquele que elas teriam à disposição no ambiente natural. Então, como as pererecas preferem se esconder dentro da vegetação durante o dia, criamos um aquaterrário com bastante vegetação para o casal.

Além disso, para minimizar qualquer risco sanitário aos animais, desinfetamos todos os itens introduzidos no terrário. Afinal, o bem-estar desses dois indivíduos é sempre uma prioridade!

(Ben Phalan – Chefe de Conservação do Parque das Aves)

Monitoramento da água e do comportamento

Apesar de não ficarem em ambiente aquático o tempo todo, já que preferem se esconder na vegetação, as pererecas são muito sensíveis à qualidade da água. Então, esse é um outro ponto de atenção dos técnicos!

Assim, eles monitoram constantemente parâmetros como o pH, conferindo se a água está ácida ou básica na proporção correta. Além disso, a equipe analisa a presença de nitrato, nitrito e amônia, que poderiam ter um efeito negativo nas pererecas.

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Richarlyston, da equipe de Manejo do Parque das Aves, analisando a qualidade da água no aquaterrário das pererecas. Foto: Equipe do Parque das Aves.

Dessa forma, após verificar essas alterações, os técnicos ajustam a proporção de troca de água dos animais. Então, é possível manter cada parâmetro monitorado dentro das condições ideais de bem-estar para essa espécie.

Além de monitorar a água, é muito importante avaliar o comportamento de cada espécie. Inclusive, como as pererecas possuem hábitos noturnos, a equipe instalou uma câmera infravermelha para realizar o monitoramento minucioso do comportamento do casal todos os dias! 

Ao analisar as gravações noturnas, aprendemos muito sobre os hábitos comportamentais, alimentares e o padrão de atividade dessa espécie. E, durante o monitoramento diurno, observamos que os animais preferem se esconder dentro de bromélias e outras vegetações.

Além disso, eles possuem a habilidade de alterar a coloração da pele de acordo com o local em que se encontram.

(Roberta Manacero – Curadora de Coleções Zoológicas do Parque das Aves)
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Lygia, veterinária do Parque das Aves, examinando uma perereca. Foto: Equipe do Parque das Aves.

Parcerias indispensáveis

Para que pudéssemos oferecer conforto à espécie, a pesquisadora Elaine compartilhou muitas informações sobre o ambiente natural da espécie. Então, elas se tornaram recomendações técnicas para guiar os cuidados com os animais.

Além disso, o Parque das Aves recebeu orientações detalhadas sobre criação de pererecas do Zoológico de São Paulo. Afinal, a instituição já tem larga experiência com a manutenção de anfíbios ameaçados de extinção!

Por fim, segundo Roberta, com esse apoio técnico de qualidade, o Parque das Aves é capaz de oferecer as melhores condições para esse casal tão especial. O nosso compromisso é com o bem-estar de todos os animais sob nossos cuidados!

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Boas parcerias entre diversas instituições são indispensáveis para a conservação de espécies. Afinal, ninguém salva espécies sozinho! Foto: Equipe do Parque das Aves.

Parque das Aves ganha apoio financeiro da Amphibian Ark

Para complementar sua atuação na conservação dessa espécie, o Parque das Aves enviou uma proposta de apoio financeiro para a organização internacional Amphibian Ark (em português, “Arca dos Anfíbios”). Então, felizmente, a notícia da aprovação chegou nos últimos dias!

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O Parque das Aves acaba de ganhar uma seleção de propostas de apoio financeiro da Amphibian Ark. Foto/Reprodução: Site Amphian Ark.

Assim, toda a equipe técnica do Parque das Aves está muito satisfeita que a importância e a urgência deste projeto tenha sido reconhecida! Afinal, agora, temos os recursos para construir mais aquaterrários, na esperança de expandir a população e assegurar o futuro da espécie.

Conheça a Mata Atlântica de pertinho

Desde 2017, o foco de trabalho do Parque das Aves tem sido a conservação de espécies de Mata Atlântica. Por isso, quando visitar Foz do Iguaçu, visite o Parque das Aves e descubra o bioma dessas lindas pererecas! Aliás, estamos em frente às Cataratas do Iguaçu! Veja mais detalhes sobre a visita aqui.

O Parque das Aves é um espaço de conexão única com as aves da Mata Atlântica.
Foto: Equipe do Parque das Aves.

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