Parque das Aves recebe uma das aves mais raras do país
Publicado por Parque das Aves em 10/05/2022
Atualizado em 25 de janeiro de 2023
Tempo de leitura: 6 minutos
Somos a única instituição do mundo a abrigar uma das aves mais raras do Brasil: o uru-do-nordeste!
Uma viagem em uma aeronave privada, partindo de Fortaleza, no Ceará, e pousando em Foz do Iguaçu, no Paraná.
Poderia ser um passeio turístico de luxo… mas era uma operação cuidadosamente planejada para levar uma da aves mais raras do Brasil para o Parque das Aves!
No início de abril, cinco indivíduos de uru-do-nordeste (Odontophorus capueira plumbeicollis) chegaram até a instituição, trazidos pela equipe da Associação de Pesquisa e Preservação de Ecossistemas Aquáticos (Aquasis).
Como seu nome indica, o uru-do-nordeste é exclusivo das florestas da Mata Atlântica e Caatinga no nordeste do país.
No entanto, a Aquasis já documenta o desaparecimento da ave na região há vários anos.
Entre 2008 e 2017, a população do uru-do-nordeste, mesmo em áreas mais conservadas, reduziu em 54%.
Atualmente, se estima que haja menos de 50 indivíduos nessa região!
Por isso, a espécie entrou na lista das aves mais raras do Brasil.
Infelizmente, a espécie enfrenta ameaças como a caça e o desmatamento.
Além disso, a equipe da Aquasis suspeita que as aves sofram com ataques de teiús e raposas, além de possíveis ataques de gatos e cães domésticos.
Assim, antes que eles se tornassem ainda mais raros, a recomendação era levar alguns indivíduos para reprodução em um ambiente seguro e adequado – como o Parque das Aves.
Porém, sempre há obstáculos entre a teoria e a prática… e, na conservação de espécies ameaçadas, não é diferente!
De fato, o primeiro deles é que ainda não havia nenhum indivíduo da espécie sob cuidados humanos.
Então, como levar até o Parque das Aves um animal ameaçado que ninguém abrigava?
Por isso, a solução encontrada foi, com a autorização dos órgãos ambientais, procurar alguns animais na floresta.
Porém, encontrar e coletar os animais era só o começo da aventura.
Após acomodar as aves na sede da Aquasis, chegou a hora de pensar no deslocamento até Foz do Iguaçu.
Afinal, como transportar até o outro lado do país, de forma segura, cinco galinholas ariscas e seriamente ameaçadas de extinção?
Assim, para evitar o transporte convencional de carga – que demoraria cerca de vinte horas e seria estressante para as aves – os pesquisadores tentaram outra opção.
Primeiro, a equipe da Aquasis conversou com todas as empresas de aviação que realizavam o trajeto Fortaleza-Foz do Iguaçu, pedindo autorização para embarcar junto com as aves.
Afinal, seria essencial evitar escalas muito longas e monitorar os animais de perto durante a viagem.
Porém, quando uma companhia aérea finalmente topou a proposta, havia uma condição: a equipe deveria arcar com o combustível do avião, que custaria 20 mil reais.
No entanto, o time não desistiu: por meio de um financiamento coletivo e doações particulares, a quantia necessária (que a companhia aérea acabou deixando por 15 mil reais) acabou aparecendo!
Por fim, depois de muita persistência e esforço coletivo, chegou a hora de levar as aves para sua nova casa no Paraná!
A viagem de abril de 2022 era uma necessidade antecipada desde fevereiro de 2020.
Nessa data, antes mesmo da pandemia, 25 especialistas em conservação de aves se reuniram no Parque das Aves.
Juntos, eles identificaram que era preciso criar uma população de segurança para o uru-do-nordeste.
Em resumo, criar uma população de segurança envolve reproduzir animais em um local seguro (como um zoológico ou criadouro) para, futuramente, reintroduzir seus descendentes no ambiente natural.
Assim, estavam presentes representantes do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Aves Silvestres (CEMAVE), do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e da Sociedade para a Conservação das Aves do Brasil (SAVE Brasil).
Também participaram o Grupo Especialista em Planejamento de Conservação (CPSG) da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) e do Centro de Sobrevivência de Espécies Brasil (CSE Brasil).
Desse encontro, surgiu um importante documento técnico, que serve para orientar os próximos passos para salvar a espécie.
Assim, a presença de tantas instituições reforça o que já acreditamos: ninguém salva espécies sozinho!
De fato, zoológicos como o Parque das Aves devem complementar o trabalho de organizações não-governamentais, órgãos governamentais e universidades.
Atualmente, a Aquasis também luta para conservar outras aves da Mata Atlântica nordestina, como o periquito-cara-suja e o soldadinho-do-araripe.
Além disso, a instituição ajudou a incluir o uru-do-nordeste em Planos de Ação Nacional (PANs), documentos técnicos que orientam as medidas de proteção de espécies ameaçadas, como o PAN para Conservação de Aves da Mata Atlântica.
Por isso, o Parque das Aves se alegra em apoiar essas atividades no Ceará, estado onde a ciência descobriu a espécie!
Assim, com muito trabalho e determinação, muitos urus-do-nordeste paranaenses voltarão para a sua região de origem no futuro!
No Parque das Aves, os cinco urus-do-nordeste (Odontophorus capueira plumbeicollis) estão mais próximos do uru-do-sudeste (Odontophorus capueira capueira), espécie muito semelhante que já vivia sob nossos cuidados.
Porém, apesar de serem muito parecidos fisicamente, eles são geneticamente diferentes.
Além disso, o uru-do-sudeste habita uma região diferente, que inclui áreas no Brasil, Paraguai e Argentina.
Atualmente, o uru-do-sudeste não está ameaçado de extinção.
Porém, a previsão para o uru-do-nordeste não é tão animadora: sem uma intervenção, a ave seria extinta da natureza em até dez anos.
Porém, no que depender do esforço conjunto dessas equipes, o destino da espécie com certeza será outro!
Por enquanto, os urus-do-nordeste ainda não estão na trilha por onde passam os visitantes do Parque das Aves.
No entanto, é possível conhecer de perto o uru-do-sudeste, que fica no recinto chamado “Os Pequenos Marrons”. Inclusive, o nome do recinto tem a ver com a coloração das aves presentes, que ficam camufladas no solo escuro e cheio de folhas da Mata Atlântica.
Em seu ambiente natural, os urus constroem ninhos em tocas no solo. Por isso, a equipe do Parque das Aves adiciona folhas no chão!
Afinal, cada ave sob nossos cuidados precisa se sentir totalmente em casa!
Quer saber mais sobre os urus? Então, acompanhe o Projeto Uru do Nordeste no Instagram!