Papagaio-do-peito-roxo: uma ave exuberante da Mata Atlântica
Publicado por parquedasaves em 03/10/2023
Atualizado em 7 de novembro de 2024
Tempo de leitura: 4 minutos
Por Nêmora Pauletti Prestes, pesquisadora do Projeto Charão (AMA)
Em 1817, o naturalista Príncipe alemão Maximiliano de Wied-Neuwied coletou os primeiros exemplares de papagaio-do-peito-roxo no Brasil, no estado da Bahia, quase na divisa com Minas Gerais, e confirmou ser uma espécie ainda não conhecida pela ciência.
Estes indivíduos foram enviados para a Alemanha e, em 1820, foram formalmente descritos por Kuhl como Psittacus vinaceus.
A espécie originalmente distribuía-se na Mata Atlântica e áreas de transição adjacentes desde o sul da Bahia ao Rio Grande do Sul, no Brasil e na Argentina e Paraguai.
Atualmente ainda existem registros ao longo de quase toda a extensão original, porém houve extinções locais em diversas regiões, como nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul.
Apesar da extensa distribuição geográfica, a maioria das populações remanescentes estão reduzidas e isoladas como resultado dos impactos ambientais das últimas décadas (SILVEIRA, SOMENZARI, BOVO, 2021).
Se quiser, clique nos capítulos abaixo para ir direto ao assunto:
Papagaio-de-peito-roxo muito além da mata atlântica
A reprodução do papagaio-de-peito-roxo
A alimentação do papagaio-de-peito-roxo
Principais ameaças ao papagaio-de-peito-roxo
O papagaio-de-peito-roxo (Amazona vinacea) não é uma espécie associada apenas ao bioma Mata Atlântica, mas também Caatinga, Cerrado e Pampa.
Entre as espécies de papagaios que ocorrem no leste do Brasil, certamente ele é o que possuiu uma das maiores distribuições geográficas conhecidas, ocorrendo originalmente desde o sudoeste da Bahia até a Mata Atlântica argentina e paraguaia.
O papagaio-de-peito-roxo abre o pinhão, semente da araucária, com seu bico para se alimentar da parte interna e comestível da semente.
A extensa distribuição da espécie pode dar a impressão de que a espécie não está em risco de extinção.
O Projeto Charão monitora a população de papagaios-de-peito-roxo em áreas simpátricas com o papagaio-charão desde 2010.
SIMPATRIA: na biologia, essa palavra descreve duas espécies que compartilham uma mesma região, e que geralmente se encontram, como é o caso do papagaio-charão e o papagaio-de-peito-roxo. Essas regiões são chamadas de áreas simpátricas.
Os resultados sempre chamaram a atenção sobre o baixo tamanho populacional da espécie. Nas últimas contagens realizadas em 2017 e 2018 em toda a extensão do território brasileiro foram registrados 4.057 e 4.758 papagaios, respectivamente.
Cabe ressaltar que mais de 60% da população brasileira de papagaio-de-peito-roxo é registrada no estado de Santa Catarina, onde deveriam ser intensificados os esforços de conservação.
O período reprodutivo da espécie foi registrado de setembro a janeiro. A escolha da cavidade pelos papagaios está de acordo com a disponibilidade e dimensões suficientes para a reprodução.
A maior parte dos ninhos foi encontrada nas seguintes árvores:
Canela-fogo (Cryptocarya aschenoniana): 26,60%
Canela-amarela (Nectandra lanceolata): 13,30%
Guaperê (Lamanomia ternata): 13,30%
Camboatá-vermelho (Cupania vernalis): 10,00%
Não foi observado ninho do papagaio-de-peito-roxo no pinheiro-brasileiro (Araucaria angustifolia).
Foram monitorados 16 ninhos de papagaio-de-peito-roxo, localizados em cavidades naturais e também em caixas-ninhos.
As fêmeas podem colocar de 2 a 4 ovos. Os filhotes deixam o ninho com 40 a 45 dias de vida e não realizam grandes deslocamentos na primeira semana, de maneira que o afastamento do filhote do ninho é progressivo, sendo possível encontrar os filhotes de papagaio-de-peito-roxo em dormitórios-coletivos cerca de 20 a 45 dias após deixarem o ninho.
Os adultos se revezam nos cuidados com os filhotes no ninho. Ao chegar no local, os adultos vigiam atentamente e posteriormente realizam as tratadas para os filhotes.
TRATADA é quando os pais alimentam, ou “tratam”, seus filhotes.
Os adultos visitam os filhotes no ninho no início das manhãs, nas horas centrais e no final do dia.
Oito filhotes de papagaios-de-peito-roxo receberam rádios-transmissores quando estavam nos ninhos e tiveram os sinais rastreados até seis meses após.
Pela radiotelemetria, constatou-se que os filhotes realizam pequenos deslocamentos diários desde os dormitórios, entre 1 km e 1,5 km, e permanecem no grupo familiar após 120 dias.
Os principais itens alimentares registrados para a espécie foram:
Registramos também o consumo de espécies vegetais exóticas, como: cinamomo (Melia azedarach), nêspera (Eriobotrya japonica), eucalipto (Eucaliptus sp.), uva-do-japão (Hovenia dulcis), laranja (Citrus sp.), amora (Morus sp.) e outros.
A captura e o comércio de filhotes ainda representam uma grande ameaça em algumas regiões, principalmente no estado de Minas Gerais, mas a perda do ambiente natural e de sua qualidade é o mais agravante.
Manter e conservar árvores de grande porte nas florestas é uma das principais estratégias para garantir o sucesso reprodutivo do papagaio-de-peito-roxo.