Saiba tudo sobre as PANCs (Plantas Alimentícias Não Convencionais)

Publicado por parquedasaves em 22/01/2020

Atualizado em 24 de julho de 2024

Tempo de leitura: 10 minutos

No mundo todo, ao longo da história, estima-se que tenham existido mais de 30 mil espécies de plantas comestíveis.

Destas, apenas cerca de 6 a 7 mil foram cultivadas (FAO Brasil).

Porém, apesar de tanta riqueza, atualmente dependemos de apenas 30 dessas plantas para obter nossas necessidades calóricas e nutricionais diárias (FAO Brasil).

Ou seja: conhecemos, produzimos e comemos uma porcentagem minúscula de todas as plantas comestíveis existentes.

Para as espécies que, apesar de terem potencial alimentício, não conhecemos bem, não consumimos com frequência ou usamos apenas uma parte ou preparamos apenas de uma maneira, há um nome especial: PANC – Plantas Alimentícias Não Convencionais.

O grupo das PANCs também inclui partes de plantas convencionais que não são consumidas por falta de hábito ou conhecimento.

Por exemplo, se consome a banana, mas não a casca, o palmito e o coração (mangará).

Ou então, se consome o mamão como fruta quando maduro – mas não como salada, quando verde.

A imagem mostra uma bananeira com um cacho de bananas verdes ainda em desenvolvimento. Abaixo do cacho de bananas, há uma flor de bananeira pendente, de cor roxa, também conhecida como coração da banana ou mangará. A bananeira está em um ambiente ao ar livre, cercada por outras folhas de bananeiras e vegetação tropical. As folhas da bananeira têm bordas um pouco rasgadas, o que é comum em ambientes naturais devido ao vento e outros fatores.

Plantas tradicionais podem ser consideradas PANC ao serem preparadas de uma maneira inusitada ou se forem usadas partes que normalmente não seriam consumidas. É o caso do coração da banana (mangará) – que normalmente é descartado pelos agricultores, embora seja totalmente comestível. Foto: iNaturalist – Luken.

O criador do termo PANC, Valdelly Knupp, é um pesquisador que estudou cerca de 1.500 espécies de plantas (hortaliças, verduras, raízes, flores e frutos) que haviam caído no esquecimento de muita gente.

Assim, Valdelly provou que muitas espécies não tradicionais podem enriquecer nossa alimentação (nutricional e sensorialmente falando) e tirar a nossa dieta da monotonia alimentar.

Por que consumir as PANCs?

De fato, as PANCs são uma verdadeira revolução gastronômica, agronômica, terapêutica e ecológica.

Em primeiro lugar, no aspecto nutricional: assim como diversasa outras plantas, as PANCs também possuem proteínas, vitaminas essenciais, antioxidantes, fibras e sais minerais. 

Por isso, são uma verdadeira “farmácia viva”, capazes de prevenir diversas enfermidades.

Em segundo lugar, as PANCs são plantas espontâneas e que não precisam ser cultivadas.

Portanto, elas também trazem autonomia para quem quer buscar sabores diferenciados e nutrientes variados por conta própria, sem depender de produtores.

Além disso, PANCs são inclusivas: por serem muito resistentes, se propagarem com grande facilidade e se adaptarem a locais onde muitas plantas convencionais não proliferam, podem ser incluídas na alimentação com custo zero ou por um valor muito em conta!

Assim, por natureza, PANCs não precisam de agrotóxicos, o que torna o seu cultivo muito mais ecológico que as plantações comuns.

Ainda, pela sua resiliência natural, as PANCs estão muito mais adaptadas às mudanças climáticas.

A imagem mostra uma folha grande e verde em formato de coração, provavelmente de uma planta chamada taioba, cujo nome científico é Xanthosoma sagittifolium. A folha tem nervuras bem definidas e está em um ambiente externo com outras plantas ao redor, sobre um solo coberto por grama e folhas caídas.

Conhecer as PANCs também é valorizar a biodiversidade local. Na imagem, uma taioba (Xanthosoma sagittifolium). Foto: iNaturalist – isabela_tavares.

Comer PANCs, valorizar o que é local

Conhecer as PANCs também significa valorizar o que é local!

De uma forma geral, valorizamos nossas tradições, costumes e patrimônio cultural. No entanto, ainda não conhecemos tão bem a nossa biodiversidade.

Por exemplo, em nossas refeições caseiras, no cardápio nos restaurantes, nas gôndolas dos supermercados e nas feiras, a maior parte dos alimentos são exóticos (nativos de outros países).

Além disso, precisamos nos lembrar que tudo foi “mato” um dia. Então, nossos ancestrais descobriram as plantas que são comestíveis, saudáveis e nutritivas. Em resumo, tudo é “mato” até que você conheça de perto e saiba o nome!

Felizmente, mais áreas estão estudando e divulgando a importância das PANCs: biologia, agronomia, nutrição, química, farmácia, gastronomia.

Afinal, quando essa sementinha PANC surge no nosso coração, fica difícil não brotar!

O potencial desperdiçado das PANCs

Para divulgar o potencial das PANC no Brasil e no mundo, Kinupp escreveu o livro “Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC)”,  juntamente com Harri Lorenzi.

O trabalho de Kinupp é muito importante, pois muitas dessas plantas espontâneas, que nascem sem serem plantadas, são consideradas ervas daninhas ou invasoras. Assim, acabam sendo vistas como algo a ser removido e combatido como uma praga.

Porém, essa visão limitada ignora o fato de que centenas delas são alimentos muito nutritivos e cultivos muito resistentes.

Infelizmente, ainda se explora muito pouco o comércio de PANCs como fonte de renda.

Por exemplo, veja o caso da bertalha (Basella alba): você pode comer as folhas e as batatinhas, com usos similares ao da batata-inglesa. Nestas batatas, foi descoberta uma substância que protege o estômago.

Então, alguns estrangeiros queriam comprar cerca de duas toneladas. Porém, não havia ninguém para vender! Que desperdício de potencial, né?

Aliás, um outro exemplo de como o uso econômico dessa PANC já foi subestimado foi uma seca muito forte que atingiu o estado do Rio Grande do Sul.

Na época, surgiram diversos problemas nas plantações de alface.

Assim, a hortaliça teve que ser trazida de outras regiões para abastecer o mercado interno.

Agora, imagina se mais agricultores tivessem plantado bertalha no lugar de alface?

As resistentes bertalhas provavelmente teriam sobrevivido ao período de estiagem – e eles não precisariam gastar com agrotóxicos nem contaminar o ambiente com essas substâncias.

A moral da história? Precisamos reconhecer a importância dessas espécies não convencionais e explorar o uso destes ingredientes em nossa culinária! 

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A imagem mostra uma planta chamada bertalha. Essa planta possui folhas verdes brilhantes em formato de coração. As folhas estão crescendo em um muro ou superfície escura, coberta por musgo. Os caules da planta são finos e as folhas parecem ser de uma planta saudável, com um tom verde vibrante. A textura das folhas é lisa e um pouco enrugada.

Folhas da bertalha, uma PANC que também é conhecida como espinafre-do-ceilão. Foto: iNaturalist – naturalist6455.

Como reconhecer as PANCs?

Algumas dicas simples podem te ajudar a identificar as espécies de PANCs:

1 – Confirme a “identidade” da planta que pretende consumir. Vale utilizar guias de plantas (como o de Kinupp) e postar fotos da planta encontrada em grupos de redes sociais específicos para trocar informações.

Se você não tem certeza sobre qual planta pode consumir, sempre busque ajuda de alguém que realmente saiba como reconhecer e como preparar as PANCs.

Por isso, recomendamos que você faça uma boa foto e mande para alguém que tenha experiência identificando plantas!

Ainda na dúvida? Procure um botânico em alguma universidade ou na Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária).

A imagem mostra flores de capuchinha (Tropaeolum majus) com pétalas de cor laranja vibrante e centro amarelo. As folhas são grandes, verdes e redondas, com nervuras radiais bem definidas. As flores e folhas estão crescendo em um ambiente externo, ao lado de uma parede de tijolos e cercadas por outras folhagens verdes. As flores de capuchinha são conhecidas por sua cor brilhante e forma distinta, que se destacam no jardim.

A capuchinha (Tropaeolum majus) é uma das PANCs mais versáteis que existem: pode-se consumir flores, folhas, frutos e sementes dessa espécie! Foto: iNaturalist – giuseppebuscemi.

2 – Veja muitas fotos de plantas – de preferência, feitas por pessoas diferentes, que moram em diversas regiões. Você pode buscar ativamente pelos nomes científicos delas em várias plataformas e observar tantas fotos quanto for possível, além de acompanhar pessoas que fazem postagens sobre as PANCs nas redes sociais.

Por fim, como os nomes populares variam muito dependendo da região do país, é essencial conferir o nome científico das espécies.

Porém, quanto mais você for pesquisando, mais confiança e autonomia terá no assunto!

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A identificação das PANCs pode ser feita por meio de guias de plantas, fotos compartilhadas em grupos de discussão e conversas com pessoas que conhecem essas espécies. Foto: Pexels – Anna Shvets.

3 – Converse sobre plantas com mais pessoas e mostre suas fotos para mais alguém. Diversas pessoas à nossa volta conhecem as plantas pelo nome popular (o que ajuda a descobrir o nome científico da espécie), mesmo que nem sempre saibam se podem comê-las ou como preparar.

4 –  Se você ainda não tem muita experiência identificando plantas, comece pelas PANCs mais comuns, como: serralha (Sonchus oleraceus), beldroega (Portulaca oleracea), caruru do mato ou bredo (Amaranthus deflexus), maria gorda (Talinum paniculatum), dente de leão (Taraxacum officinale), alface do mato (Lactuca serriola), tansagem (Plantago major), crepe japonês (Youngia japonica) e picão (Bidens pilosa).

Inclusive, você encontra muitas dessas plantas com facilidade, crescendo espontaneamente em jardins, quintais e até na rua!

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Se você ainda não tem muita experiência identificando plantas, comece pelas PANCs mais comuns e fáceis de achar, como a beldroega. Foto: INaturalist – henriqueandrades.

Cuidados importantes na hora de consumir PANCs

Apesar do potencial das PANCs para incrementar a nossa alimentação, é essencial evitar consumir plantas que você ainda não conhece bem o suficiente ou está muito em dúvida sobre a espécie.

Afinal, nenhuma planta quer ser comida, e todas possuem algum mecanismo de defesa.

Então, muitas delas apresentam substâncias para evitar os animais as consumam – e podem ser perigosas para humanos.

Além disso, é preciso lembrar que, enquanto algumas PANCs permitem o consumo na forma crua (in natura) em um suco ou em uma salada, outras devem ser cozidas ou refogadas para se tornarem saborosas e/ou seguras para o consumo (como o caruru, a taioba e a ora-pro-nóbis).

Dependendo da PANC, até mesmo a água do cozimento precisa de descarte.

Porém, isso não é exclusividade das PANCs em si!

De fato, muitas plantas tradicionais (como a mandioca-brava ou a castanha-de-caju) precisam ser cozidas ou torradas antes do consumo.

Portanto, esse detalhe não é motivo para ficar com medo de consumir as PANCs, certo? Só precisamos ter conhecimento e cautela para aproveitar o potencial delas ao máximo!

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Existem centenas de espécies de PANC, que são encontradas em todo o país, inclusive em áreas urbanas, como o crepe-do-japão. Foto: INaturalist – fjensynd.

Para evitar contaminação, sempre higienize as PANCs manualmente e deixe-as de molho em solução de cloro por 15 minutos.

Além disso, você pode coletar mudas ou sementes na rua, retirar a maior parte das folhas e plantar novamente em casa, onde irão crescer sem contaminação.

Entrando no ritmo das PANC

Vale lembrar que existem PANCs cosmopolitas (presentes em diversos países e até continentes) e PANCs endêmicas (exclusivas de uma região específica).

Além disso, há PANCs adaptadas para diferentes ambientes (ensolarado, sombreado, arenoso, salino, aquático).

Inclusive, os hábitos da população do local alteram o consumo de PANCs: uma mesma planta pode ser “convencional” em uma região e “não convencional” em outra!

Por isso, dê preferência para PANCs que são nativas ou facilmente encontradas na sua região.

Por fim, lembre-se também que há PANCs sazonais – que podem ou não estar disponíveis, dependendo da época do ano.

Assim, é interessante aproveitar essas questões locais e de sazonalidade justamente para experimentar espécies (e sabores!) diferentes, em diversos momentos do ano!

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A buva, erva-lanceta ou avoadinha (Erigeron sumatrensis) é uma das centenas de PANCs que aparecem nas calçadas do Brasil. Foto: INaturalist – lindaxenia.

Como preparar PANCs

Em resumo, as PANCs podem incrementar praticamente qualquer preparação salgada: arroz, feijão, angu, polenta, carnes, ovos, tortas, sopas, virados, farofas, pães, saladas, massas, molho vermelho e maioneses.

Além disso, podem ser incluídas em sobremesas (bolos, mousses, cremes, geleias, sorvetes e doces), ou bebidas (licores, cervejas e sucos).

Aliás, é fácil encontrar receitas com PANCs na internet: você pode conhecer algumas delas clicando aqui e aqui!

Conheça algumas PANCs da Mata Atlântica

A Mata Atlântica abriga uma enorme variedade de espécies de PANCs extremamente nutritivas.

Portanto, aqui vai uma listinha de algumas para você conhecer melhor:

  1. Abiu (Pouteria caimito);
  2. Almeirão-de-árvore (Lactuca canadensis);
  3. Araruta (Maranta arundinacea);
  4. Azedinha (Rumex acetosa);
  5. Beldroega (Portulaca oleracea);
  6. Bertalha (Basella alba);
  7. Cambuci (Campomanesia phaea);
  8. Capeba (pariparoba);
  9. Cará-de-espinho/cará-moela;
  10. Capiçoba (Erechtites sp);
  11. Caruru (Amaranthus deflexus);
  12. Dente- de-leão (Taraxacum officinale);
  13. Feijão-guandu (Cajanus cajan);
  14. Jambu (Acmella oleracea);
  15. Jaracatiá (Jacaratia spinosa);
  16. Jenipapo (Genipa americana);
  17. Jurubeba (Solanum paniculatum);
  18. Hibisco/vinagreira (Hibiscus sp.);
  19. Major gomes ou beldroegão (Talinum paniculatun);
  20. Maxixe do reino (Cyclanthera pedata);
  21. Maracujá do mato (Passiflora cincinnata);
  22. Murici (Byrsonima crassifolia);
  23. Ora-pró-nobis (Pereskia aculeata);
  24. Picão-branco (Galinsoga parviflora);
  25. Picão-preto (Bidens pilosa);
  26. Pixirica (Clidemia hirta);
  27. Serralha (Sonchus oleraceus);
  28. Taioba/mangarito (Xanthosoma sagittifolium);
  29. Alguns tipos de urtigas.
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Para utilizar as PANCs é possível coletá-las por aí, comprar em feiras ou plantar em uma horta. Algumas, como essa ora-pro-nóbis, são bem fáceis de encontrar. Foto: INaturalist – alison_young.

Assim, com tanta variedade, que tal aproveitar para conhecer melhor e se beneficiar do uso das plantas alimentícias não convencionais no seu dia a dia?

PANCs que você pode provar no Parque das Aves

No Complexo Gastronômico do Parque das Aves, composto pelo Restaurante Sabores da Floresta, Bistrô da Mata e Café da Praça, você pode provar diferentes PANCs em algumas opções de pratos.

Confira as opções nos cardápios e entre em contato com nossa equipe para obter mais informações.

Confira algumas das PANCs cultivadas na horta do Parque das Aves e servidas em diferentes pratos no Complexo Gastronômico:

Taioba (Xanthosoma sagittifolium)

A taioba é uma PANC típica da Mata Atlântica. Muito versátil e saborosa, ela é rica em minerais, vitaminas e proteínas.

Ora-pro-nóbis (Pereskia aculeata)

A ora-pro-nóbis é uma das PANCs mais utilizadas na culinária brasileira pelo seu alto valor nutricional, principalmente minerais, vitaminas e proteínas.

Peixinho-da-horta (Stachys byzantina)

O peixinho-da-horta é uma PANC muito interessante, com sabor de peixe. Além de deliciosa, ela é rica em antioxidantes e fibras

Assa-peixe (Vernonia polysphaera)

O assa-peixe é uma PANC que também lembra o gosto de peixe. Além disso, ela tem excelentes propriedades medicinais.

Jaca (Artocarpus heterophyllus)

A jaca é uma fruta considerada PANC rica em vitaminas, minerais e fibras. 

Vinagreira (hibisco) (Hibiscus sabdariffa)

A vinagreira, também conhecida como hibisco, tem um sabor azedinho característico e muito delicioso! A planta possui muitas vitaminas e fibras.

Begônia (Begonia semperflorens)

Além de ter lindas flores, a begônia é uma PANC muito saborosa e nutritiva, repleta de vitaminas, minerais e fibras.

Saiba mais sobre as PANCs

Ficou curioso sobre as PANC?

Então, acesse esses recursos para saber mais:

Sobre o Parque das Aves

O Parque das Aves, um centro de resgate, abrigo e conservação de aves da Mata Atlântica e o atrativo mais visitado de Foz do Iguaçu depois das Cataratas, completa 30 anos de atuação em 2024.

Como é uma instituição privada, os visitantes promovem a continuidade do trabalho do atrativo através da visita ao Parque, consumo nos restaurantes do Complexo Gastronômico e compras na Loja de souvenirs.

Referências:

FAO Brasil: https://www.fao.org/brasil/noticias/detail-events/pt/c/1195175/

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