Ações para salvar espécies de aves ameaçadas de extinção

Publicado por parquedasaves em 24/12/2020

Atualizado em 26 de janeiro de 2023

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O documento resume os resultados de um workshop realizado em fevereiro no Parque das Aves, e identifica ações prioritárias de conservação para dez espécies.

Foi publicado hoje um relatório detalhando com recomendações de um workshop sobre a conservação de mutuns e outras aves ameaçadas de extinção no Brasil. O relatório é baseado em uma oficina que envolveu, em fevereiro de 2020, 25 especialistas em conservação no Parque das Aves, em Foz do Iguaçu. O relatório delineou estratégias para a conservação dos mutuns e outras aves ameaçadas, incluindo espécies listadas no Plano de Ação Nacional (PAN) para a conservação das aves da Mata Atlântica e mais dois PANs – coordenado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). O principal objetivo foi avaliar a necessidade de estabelecer programas de manejo integrado para populações sob cuidados humanos, a fim de prevenir extinções de aves ameaçadas.

Jacutingas (Aburria jacutinga)

Foram analisadas dez espécies ou subespécies distintas de aves, em sua maioria da Mata Atlântica brasileira. Quatro delas foram identificadas como prioritárias para ações de conservação ex situ: A jacutinga (Aburria jacutinga), o mutum-do-sudeste (Crax blumenbachii), o mutum-pinima (Crax pinima), e o uru-do-nordeste (Odontophorus capueira plumbeicollis). Todos estão listados como Em Perigo ou Criticamente Em Perigo na Lista Vermelha Nacional.

“Nos sentimos honrados em receber os maiores especialistas do Brasil em conservação de aves aqui no Parque das Aves para buscar estratégias para frear a extinção de espécies. Tenho confiança de que os planos que estão desenvolvendo ajudarão as populações das espécies a se recuperarem,” comenta a Dra. Carmel Croukamp, diretora geral do Parque das Aves.

A jacutinga (globalmente Em Perigo) era anteriormente uma espécie comum na Mata Atlântica, mas sua população foi dizimada pela caça e pela perda de habitat. Já existem projetos bem sucedidos de reintrodução das espécies, mas os participantes da oficina identificaram a necessidade de maior colaboração e coordenação entre todas as instituições. Reintroduções e reforços populacionais focados em áreas específicas ajudarão a restaurar as populações desta espécie icônica e seu importante papel na dispersão das sementes das árvores, incluindo o palmito-juçara. Uma importante ferramenta para a conservação das espécies, que tem ajudado a jacutinga, são os studbooks. Os studbooks documentam as relações entre os indivíduos da população mantida sob cuidados humanos em ambiente controlado, ajudando no manejo científico da população.

O Parque das Aves, que envia os filhotes de jacutinga para ações de reintrodução coordenadas pela SAVE Brasil, é o guardião do studbook da espécie através de um acordo de cooperação técnica entre a Associação de Zoológicos e Aquários do Brasil (AZAB), o Ministério do Meio Ambiente e o ICMBio.

Mutum-do-sudeste (Crax blumenbachii)

O mutum-do-sudeste (globalmente Em Perigo), encontrado apenas no Brasil, também tem sido dizimado pela caça e pelo desmatamento, mas tem sido objeto de projetos de reintrodução do mesmo modo. O grupo identificou a necessidade de reorganizar ações com as aves no manejo em ambiente controlado. Eles também recomendaram encontrar maneiras de incentivar a colaboração estreita de mais instituições com a espécie. O grupo destacou a necessidade de considerar translocações de indivíduos que permanecem em fragmentos de floresta muito pequenos para garantir sua sobrevivência a longo prazo.

O mutum-pinima (globalmente Criticamente Em Perigo) foi a única espécie discutida no workshop que não é encontrada na Mata Atlântica. Sua situação é muito grave, sem aves em zoológicos ou criadouros e com apenas um pequeno número de aves encontradas em seu ambiente de ocorrência natural. O grupo recomendou tentativas de resgatar alguns destes últimos indivíduos e trazê-los para ambientes controlados, e manter estes animais sob cuidados humanos, trabalhando em parceria com as comunidades indígenas, em cujos territórios a espécie é encontrada.

Uru (Odontophorus capueira)

O uru-do-nordeste pode representar um táxon endêmico distinto para o Brasil, e está listado como Criticamente Em Perigo na Lista Vermelha Nacional. Esta ave desapareceu da maior parte de sua distribuição original no nordeste do Brasil e está em alto risco em função da caça, predação de ninhos por cães domésticos e outras espécies, e suspeita de surtos de doenças. O grupo recomendou um resgate cuidadosamente planejado de ovos da natureza para estabelecer uma população de segurança. Como as taxas de predação dos ninhos são muito altas, isto teria um impacto mínimo sobre a população em seu ambiente de ocorrência natural. Uma população de segurança seria então desenvolvida como uma fonte para futuras reintroduções e reforços da população.

Há outras espécies que são pouco conhecidas e não têm indivíduos em ambiente controlado para iniciar uma população de segurança. Um exemplo é o inhambu-relógio (Crypturellus strigulosus), uma espécie que quase desapareceu da Mata Atlântica, devido ao desmatamento, fragmentação da floresta e caça. O grupo de especialistas sugere esforços urgentes de pesquisa para entender a taxonomia e o tamanho populacional desta espécie na Mata Atlântica.

“Nós não podemos perder a esperança, pois trabalhamos com conservação de espécies. Sempre há uma chance de salvá-las da extinção, por mais difícil que pareça. Enquanto ainda houver indivíduos de uma espécie, haverá esperança,” comenta Pedro Develey, diretor da SAVE Brasil.

Mutum-de-penacho (Crax fasciolata)

Os detalhes completos destas recomendações para estas e outras espécies de jacus, mutuns e inhambus podem ser encontrados no relatório do workshop, que está disponível em português e inglês no site do Grupo Especialista em Planejamento para a Conservação (CPSG). A oficina seguiu as diretrizes da União Internacional para Conservação da Natureza (UICN) sobre manejo ex situ para a conservação de espécies. O progresso das ações será monitorado principalmente dentro do Plano de Ação Nacional para a conservação das aves da Mata Atlântica e demais PANs.

“Salvar espécies é um esforço colaborativo. Para a conservação efetiva de uma espécie, todos nós precisamos trabalhar juntos – zoológicos, criadouros, centros de triagem de animais selvagens, ONGs, agências estaduais, universidades, autoridades federais,” disse Eduardo Barbosa do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Aves Silvestres (CEMAVE/ICMBio).

“Esse workshop vai ajudar a atingir alguns dos objetivos do Plano de Ação Nacional para a conservação das Aves da Mata Atlântica. É um prazer reunir um grupo com tanto conhecimento e experiência para detalhar os próximos passos para conservar essas espécies,” disse Fabiana Rocha, do CPSG Brasil.

Macuco (Tinamus solitarius)

O workshop foi realizado pelo Parque das Aves e conduzido pelo CPSG, da Comissão de Sobrevivência de Espécies (CSE), da UICN, em parceria com o CEMAVE/ICMBio.

Veja o relatório versão português aqui.

Veja o relatório versão inglês aqui.

Instituições presentes:

Aquasis
AZAB – Associação de Zoológicos e Aquários do Brasil
CEMAVE/ICMBio – Centro Nacional de Pesquisa e Conservação das Aves Silvestres
INMA – Instituto Nacional da Mata Atlântica
UICN CSE Centro de Sobrevivência de Espécies Brasil
UICN CPSG – Grupo de Especialistas em Planejamento da Conservação
JUMA Consultoria Ambiental
Museu de História Natural Capão de Imbuia
Parque das Aves
Permian Global
SAVE Brasil
UENF – Universidade Estadual do Norte Fluminense
UEMA – Universidade Estadual do Maranhão
UFMT – Universidade do Mato Grosso
UNIVALI – Universidade do Vale do Itajaí

E em sua próxima visita a Foz do Iguaçu, não deixe de visitar o Parque das Aves e conhecer o trabalho de conservação de aves da Mata Atlântica bem de pertinho. O Parque fica localizado bem em frente às Cataratas do Iguaçu. Veja mais detalhes sobre a visita aqui: www.parquedasaves.com.br

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