Fotografia de aves: uma aventura inesperada

Publicado por parquedasaves em 04/02/2024

Atualizado em 20 de março de 2024

Tempo de leitura: 3 minutos

Por Gabriel Marchi, cinegrafista, fotógrafo e documentarista de natureza e vida selvagem

Bicudinho-do-brejo em uma folha de piri. Crédito: Gabriel Marchi.

Você sabe o que está por trás de uma fotografia como essa? Parece uma foto simples, sem muito segredo para ser realizada, mas existem bastidores que acontecem antes para que esse clique aconteça. 

Esse é o Rosaldo, um bicudinho-do-brejo que mora em banhados no litoral do Paraná e está ameaçado de extinção.

Para fazer essa fotografia, foi necessária uma aventura em meio aos brejos do fundo da baía de Guaratuba.

Pode não parecer, mas a Mata Atlântica é bastante desafiadora para um fotógrafo e sua câmera fotográfica.

Temos umidade constante, chuvas torrenciais esporádicas, momentos de muito calor e nos tornamos verdadeiros “buffets ambulantes” para vários insetos, como mosquitos, borrachudos e mutucas.

Ah, e o repelente nem sempre é permitido! Afinal, não queremos ser percebidos pelos animais a serem fotografados

Eu precisei me equipar muito bem para fotografar o Rosaldo, usando o meu “uniforme da natureza”, que é uma camiseta de manga comprida, chapéu com saia, uma calça e bota para trabalho na água e bastante protetor solar.

O bicudinho-do-brejo é um daqueles que não gostam de repelente, por isso também usei luvas, daquelas de pescador, com somente dois dedos expostos: o indicador e o polegar. Melhor passar calor do que ser devorado pelas mutucas, não acham?

Roupa camuflada texturizada. Crédito: Gabriel Marchi.

Agora, vamos à jornada até onde essa ave vive. São horas de estrada adentro até uma pequena comunidade.

De lá, pegamos um barco que nos leva a uma pequena ilha, onde o Rosaldo monta o seu ninho anualmente.

Detalhe importante, precisamos chegar nas primeiras horas de sol e montar nosso ponto de fotografia próximo ao ninho – mas não muito perto: ele não gosta de visitantes.

Por isso eu preciso usar uma roupa camuflada, que minha esposa apelidou de “fantasia de moita”.

Uma vez bem disfarçado no meio da vegetação, o bicudinho fica tranquilo e age naturalmente diante da câmera, como um verdadeiro modelo profissional!

Ilha dos bicudinhos, na Baía de Guaratuba. Crédito: Gabriel Marchi.

Os cliques são breves, rápidos e sempre no silêncio absoluto. Absoluto mesmo!

Não vale nem conversar baixinho, é silêncio total! Ah, e evitando movimentos bruscos também, pois o pássaro é bem desconfiado: qualquer mexida e ele já se escondia no meio das folhas.

Para sair uma boa fotografia, foram algumas horas literalmente no brejo, com a maré subindo e descendo.

Não usamos playback (uma técnica para chamar a atenção da ave e atrair ela até nós) exatamente para não afastar o bicudinho do ninho. 

Quando eu vou fotografar aves, geralmente busco contar a história de um animal protegido por um projeto de conservação.

Então nada mais justo que a fotografia não estresse a ave. A ideia é documentar seus comportamentos, seja alimentação, reprodução, nidificação (produção do ninho e choca de ovos) e cuidado com os filhotes. Sempre levo  em consideração o bem-estar da ave, para não incomodá-la e muito menos danificar o seu habitat. 

Toda essa aventura (para não chamar de “perrengues”) da jornada de uma fotografia, é o que torna tudo divertido e interessante.

Eu me empolgo muito quando sou convidado a fotografar aves, gosto de pesquisar e planejar as técnicas que vou aplicar para fazer a foto, compreender o comportamento daquela espécie específica e, com isso, conseguir aquela fotografia que representa o animal como ele é, tranquilo na natureza. 

Bicudinho-do-brejo no meio do pirizal. Crédito: Gabriel Marchi.

A aventura faz parte e serve de história para contar! Seria legal se fotografar uma ave fosse simples, rápido e fácil? Talvez! Mas garanto que é muito mais divertido viver toda essa experiência!

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