3 dicas para ajudar a proteger as aves marinhas da Mata Atlântica
Publicado por parquedasaves em 26/12/2019
Atualizado em 26 de janeiro de 2023
Tempo de leitura: 7 minutos
“Agora, eu pertenço a um grupo mais elevado de mortais, pois eu vi um albatroz”. A frase é de Robert Murphy, um pesquisador de aves, que descreve a maravilha que é observar uma das espécies mais incríveis da Mata Atlântica.
Os enormes albatrozes voam de uma forma tão sublime que faz com que as pessoas percam o fôlego ao observá-los! Considerado uma das maiores aves do mundo, o albatroz-errante (Diomedea exulans) pode ter asas de até 3,3 metros de envergadura e pesar 24 quilos! Ele se alimenta principalmente de peixes e lulas, por isso não é surpresa ser encontrado em nossa Mata Atlântica, já que como o próprio nome diz, a maior parte desse bioma está localizado junto ao Oceano Atlântico.
Infelizmente, toda essa beleza está ameaçada. Assim como os albatrozes, diversas aves marinhas da Mata Atlântica precisam de mais atenção. Vamos descobrir o que podemos fazer para ajudar a proteger esses lindos animais?
Infelizmente a falta de cuidado com os resíduos plásticos pode causar diversos problemas para as aves. No vídeo de 3 minutos abaixo, filmado na Ilha de Midway, localizada no oceano Pacífico Norte (a mais de 320 quilômetros do continente mais próximo), podemos ver que diversos resíduos plásticos ainda chegam até os albatrozes, que inocentemente alimentam seus filhotes com esses itens.
Vídeo: Chris Jordan Photographic Arts
Mas não são apenas os albatrozes que sofrem com a poluição plástica. De acordo com dados do site Litterbase, o número total de espécies afetadas chega a 1.441, incluindo peixes, mamíferos, moluscos, algas, aves marinhas, tartarugas, bactérias, corais e muitas outras formas de vida aquática. O site foi criado por cientistas que estudam o mar, e nesta plataforma foram compilados dados de 2.046 publicações científicas sobre a quantidade, distribuição e composição do lixo nos rios e oceanos. É possível se informar também sobre as interações entre lixo no mar e animais marinhos, principalmente ingestão e emaranhamento em resíduos. Os dados mostram que a maior parte dessas interações com lixo envolvem peixes e aves.
A partir desses dados, foram criados infográficos e mapas dos pontos onde o lixo está mais concentrado no mar, de acordo com o movimento das correntes marinhas. Esses pesquisadores também afirmam que nenhuma região do mar, independente da profundidade, está livre do lixo deixado pelos humanos. Os resíduos já chegaram nas partes mais profundas do oceano, incluindo a Depressão Challenger, o lugar mais profundo da Terra, que fica na Fossa das Marianas, a mais de 10.916 metros de profundidade!
Apesar de ser importante evitar a geração de resíduos e descartá-los adequadamente, a maior parte do lixo marinho não são nossos resíduos do dia a dia, e sim das redes de pesca abandonadas, chamadas de “redes fantasma”. Infelizmente, para chegarem ao nosso prato, peixes e frutos do mar são pescados com redes que podem ter centenas de metros de comprimento, e todos os anos são descartados ou perdidos no mar cerca de 640 mil toneladas de redes, cordas e outras instrumentos de pesca. Feitas para durar, essas redes plásticas podem demorar mais de 600 anos para se decompor.
Diversas espécies marinhas acabam presas nas redes de pesca que estão abandonadas pelo oceano, como os crustáceos, moluscos, peixes, tartarugas, mamíferos marinhos e, claro, aves. Os peixes que morrem ao ficarem presos também atraem animais necrófagos (ou seja, aqueles que se alimentam de carne em decomposição), que acabam morrendo no mesmo local. A situação é tão séria que, no mundo, em torno de 400.000 aves marinhas de 81 espécies diferentes são capturadas em redes de pesca a cada ano – a maioria se afoga. Assim, não é de se espantar que em torno de 47% das populações de aves marinhas do mundo estão em declínio.
Além disso, existe ainda a pesca de espinhel, uma técnica onde linhas que podem ter milhares de anzóis são lançadas ao mar. As linhas podem ter dezenas de metros de extensão. Normalmente, os anzóis são em formato de “J”, mas desde 2018, são permitidos apenas anzóis circulares, que são mais fechados e redondos que o convencional, com o gancho para dentro, aumentando a chance de retirar o anzol sem causar ferimento. Isso diminui a captura das aves marinhas e outros animais, como as tartarugas, golfinhos e outros peixes que não são o alvo da pescaria, e não afeta o trabalho dos pescadores. Todos os anos, cerca de 600.000 aves marinhas, especialmente gaivotas, se ferem e perdem a vida nos anzóis.
A pesca acidental é um problema tão sério que chamou a atenção da ONU (Organização das Nações Unidas), responsável por propor um plano internacional para reduzir a captura incidental de aves marinhas pela pesca com espinhel. O Brasil foi um dos países que aderiu ao plano. Para ajudar a evitar esses acidentes, a indústria pesqueira precisa implementar algumas medidas de mitigação, como por exemplo lançar a rede ao mar durante a noite (já que as aves geralmente se alimentam de dia) e usar toriline (uma linha com fitas coloridas, que funciona como um “espantalho” de aves marinhas) perto das redes de pesca. Além disso, a indústria pesqueira também pode utilizar a técnica do regime de peso, que adiciona pesos de chumbo na linha, fazendo com que as iscas afundem rápido o suficiente para evitar que os albatrozes as vejam e consumam. A combinação dessas três medidas reduz drasticamente a quantidade de aves mortas por espinhel.
Os albatrozes e os petréis são algumas das espécies que mais sofrem com essas ameaças, especialmente porque a taxa de reprodução desses animais é lenta: algumas espécies demoram de cinco a onze anos de idade para atingirem a maturidade sexual e produzem apenas um ovo por temporada reprodutiva, que ocorre em intervalos de dois ou três anos.
Cães e gatos podem causar diversos prejuízos às aves, inclusive as marinhas. E há um exemplo disso em área de Mata Atlântica. Em Fernando de Noronha, arquipélago em Pernambuco, que abriga a maior riqueza de aves marinhas do Brasil, os gatos já se tornaram motivo de grande preocupação. Pesquisadores registraram repetidos ataques de gatos a diversos animais selvagens únicos da ilha, incluindo aves exclusivas do local, como o rabo-de-junco-de-bico-laranja (Phaethon lepturus), até mesmo nas áreas onde fazem ninhos.
Gatos introduzidos em áreas onde não ocorriam naturalmente já contribuíram para a extinção de nove espécies de aves nativas em diversas partes do mundo, além de serem responsáveis por acelerar 14% das extinções modernas de espécies.
O que podemos fazer para ajudar as aves marinhas?
Esperamos que com as ideias apresentadas acima você também possa ajudar na conservação dessas aves maravilhosas. Para, dessa forma, podermos dizer que não somos humanos melhores por termos visto um albatroz, mas por termos salvado vários! Vamos trabalhar juntos pelas aves da #NossaMataAtlantica?
Para saber mais sobre os albatrozes da Mata Atlântica, conheça e apoie o Projeto Albatroz, que desde 1990 trabalha para conservar essas espécies.
Foto da capa: Kim Kliska