Conheça a cabruca, cultivo de cacau que protege a Mata Atlântica
Publicado por Parque das Aves em 07/07/2022
Atualizado em 24 de janeiro de 2023
Tempo de leitura: 15 minutos
Cabruca: uma forma de plantar cacau em meio às árvores da Mata Atlântica.
O nome dessa forma de plantar o precursor do chocolate em plena floresta surgiu de uma pequena confusão linguística. Tudo começou com um convite para abrir buracos na mata e plantar cacau no no sul da Bahia.
“Venha cá brocar a mata.” “Cá brocar”. “Cabrucar”. Quando o povo se deu por conta, tanto o novo verbo quanto a forma de cultivo já tinha caído no gosto do agricultor do sul da Bahia.
Depois, a ideia acabou migrando para outras partes do Brasil que também produzem cacau, como o Espírito Santo.
Realmente, a ideia de “cabrucar” faz sentido. Isso porque o cacau precisa de sombra e de umidade para crescer. Então, uma cabruca não é como outras plantações, onde você só vê o mesmo tipo de árvores. De fato, os cacaueiros ficam inseridos no meio da vegetação nativa, rodeados por diferentes espécies.
Para ser considerada um sistema de cabruca, a plantação de cacau precisa ter, ao menos, 20 espécies de árvores nativas por hectare, de acordo com o decreto estadual da Bahia.
No entanto, 54 espécies é a média encontrada em alguns estudos!
Veja o vídeo de uma cabruca para entender melhor como funciona:
Além de ser o início de um chocolate delicioso, a cabruca também é um mecanismo muito importante de proteção do bioma da Mata Atlântica. Afinal, ela coexiste com mais de 250 espécies de plantas e animais, várias delas ameaçadas de extinção.
De fato, um estudo sobre as cabrucas no Sul da Bahia provou que esse sistema agroflorestal é positivo para a conservação de muitas espécies de árvores.
Para chegar à essa conclusão, os pesquisadores mapearam todas as as árvores que não eram cacaueiros em 16 propriedades, comparando com dados dos anos 60 coletados na mesma região. Além disso, eles também entrevistaram 160 produtores de cacau locais.
O resultado? As cabrucas mostraram um nível bem alto de diversidade de árvores para um sistema agroflorestal. Então, embora não consigam substituir florestas intocadas (afinal, nada consegue, né?), a presença das cabrucas nas paisagens já alteradas por humanos realmente ajuda a conservar árvores da floresta.
Além disso, as cabrucas também servem como corredores ecológicos, habitats adicionais para animais e zonas-tampão entre a cidade e a floresta propriamente dita.
Por fim, elas ajudam a regular o fluxo hídrico (produzir água!) e conservar o solo da Mata Atlântica.
No entanto, vale lembrar que, para realizar o cultivo do cacau nesses sistemas, é necessário remover o sub-bosque (vegetação de baixa estatura) e retirar alguns galhos para entrada de luz na mata (um processo chamado de raleamento).
Por isso, as propriedades precisam ser acompanhadas de perto e os processos devem ser feitos com cuidado, evitando impacto negativo desnecessário para as espécies nativas, sobretudo as do sub-bosque.
Além de proteger as árvores nativas, a cabruca também é uma estratégia inteligente para defender o cacau no Sul da Bahia das mudanças climáticas.
Afinal, o cacau é planta muito sensível à variações de temperatura e de chuvas – que não faltam em um mundo com mudanças climáticas. Exigentes, os cacaueiros só produzem bem em locais onde o clima os favorece… e tem sido assim há séculos!
A boa notícia é que, de acordo com um estudo do Laboratório de Ecologia Aplicada à Conservação (LEAC), da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), cultivar cacau em cabruca diminui os efeitos negativos das mudanças climáticas para as plantações desse fruto.
O estudo também prevê que, nas plantações a pleno sol, haverá uma perda muito maior de área onde, climaticamente, é possível plantar cacau. Por isso, a sombra das árvores da cabruca ajudarão a estabilizar o clima da plantação, permitindo continuar cultivando cacau à longo prazo.
Como se não bastasse essa vocação para gerar chocolate em um mundo que tenta lidar com as mudanças climáticas, a cabruca ainda possui um alto potencial de estocar carbono.
De fato, conforme um estudo realizado pelo Instituto Floresta Viva, a estimativa é de que 59% de todo o carbono acima do solo no litoral do sul da Bahia esteja estocado nesses sistemas agroflorestais.
Um outro estudo inédito, lançado esse ano, também afirma que há uma correlação entre a sombra da cabruca, o estoque de carbono que ela oferece e a produtividade do cacau que produz.
Descobriu-se que, quanto mais árvores (ou seja, mais sombra!) na cabruca, maior estoque de carbono que ela estoca. Inclusive, a cabruca consegue estocar quase o dobro do carbono encontrado no cultivo do cacau a pleno sol.
No entanto, excesso de sombra gera menos cacau para o produtor. Por isso, segundo o Estudo de Viabilidade Econômica do Cacau, a recomendação é de que, para se manter economicamente viável, uma cabruca não tenha mais de 30% de sombreamento.
Então, para incentivar a manutenção das árvores em prol do estoque de carbono e compensar a produtividade perdida, a ideia é estabelecer um tipo de Pagamento por Serviço Ambiental (PSA) para os produtores de cabruca.
Por fim, o estudo lembra que, mantendo boas práticas de adubação, roçagem, controle de pragas e polinização, dá para aumentar a produtividade de cacau.
Portanto, com um manejo caprichado, é possível manter bastante sombra e fazer o estoque de carbono, sem comprometer a rentabilidade!
Embora nem todo cacau plantado na mata cabrucada seja livre de agrotóxicos, a maioria das propriedades de cabruca prefere plantar cacau agroecológico e, portanto, orgânico.
Afinal, muitas experiências já provaram que, ao manter o equilíbrio do ambiente com controle biológico e manejo integrado de pragas (MIP), a cabruca não precisará de nenhum tipo de agrotóxico.
Inclusive, de todos os produtores baianos que cultivam cacau cabruca, cerca de 50% não usam agrotóxicos nem fertilizantes.
Com tantos exemplos mostrando que é possível produzir e conservar ao mesmo tempo, muitas fazendas de cacau já estão comprometidas em cuidar da Mata Atlântica.
De fato, existe uma cooperativa cujo objetivo é unir os esforços desses produtores responsáveis, que valorizam a produção orgânica e agroflorestal.
Com sede no município de Ilhéus, centro da região cacaueira da Bahia, a Cooperativa Cabruca promove a produção de cacau de qualidade nas cabrucas.
Ao mesmo tempo, incentiva o cultivo de outras espécies de interesse comercial dentro das cabrucas, como palmeiras (açaí e pupunha), especiarias (pimenta-do-reino, pimenta jamaica, noz moscada, cravo, canela, guaraná, baunilha) e frutíferas (cupuaçu, açaí, graviola, goiaba, banana, laranja, mangostão).
Todos os produtos, que são certificados como orgânicos e biodinâmicos, provam que é possível produzir muitos alimentos de forma sustentável dentro da própria floresta. Por isso, essa visão permite a coexistência de humanos e animais nas mesmas áreas, que já abrigam centenas de espécies selvagens.
De fato, a SAVE Brasil, organização parceira da Parque das Aves que trabalha pela conservação das aves brasileiras, identificou que certas fazendas de cabruca são áreas prioritárias para a conservação de aves.
Em resumo, essas áreas, chamadas de IBAs (Important Bird Areas), abrigam diversas aves importantes, muitas delas raras ou ameaçadas de extinção. Inclusive, já falamos sobre as IBAs nesse post aqui.
Aliás, a história de uma comunidade produtora de cacau que protege as aves da Mata Atlântica está no livro “15 histórias de conservação“, publicado pela SAVE.
Além dos alimentos, as áreas de cabruca também podem produzir outros produtos, como plantas ornamentais, fármacos e madeira certificada.
Um exemplo que ilustra como a cabruca protege árvores nativas é um pau-brasil de 600 anos, que segue firme e forte dentro desse sistema agroflorestal! Ou seja: a árvore (que já estava lá antes da chegada de Cabral), continua protegida devido à produção sustentável de cacau.
Além disso, uma outra cabruca abriga o maior jequitibá do país, com 48 metros de altura e 4 metros de diâmetro! Já pensou sentir a sombra de uma gigante dessas?!
A colheita do cacau tem dois momentos: a safra (setembro a fevereiro) e o temporão (março a agosto).
Felizmente, a cabruca não requer uso de maquinário pesado. Além disso, o sistema não precisa de fogo no manejo, protegendo o solo da floresta e evitando acidentes com os trabalhadores.
Após a colheita, é a hora da quebra do cacau, quando os produtores usam um facão para quebrar o fruto e remover a polpa.
A quebra do cacau acontece na própria mata, em meio à plantação. É um momento social das comunidades locais, com muita coletividade, conversa e cantoria!
Então, os trabalhadores separam a polpa da casca, que é bem grossa e pesada. É essa polpa que contém as sementes (ou amêndoas), a parte da qual é feita o chocolate. Em geral, cada cacau abriga de 30 a 40 amêndoas. Por fim, a pilha de cascas fica no chão da floresta, onde acaba se decompondo e ajudando a adubar a área.
Inclusive, o dossel de mata nativa também permite que o trabalhador execute as atividades abaixo de sombra, com uma sensação térmica agradável.
A seguir, a polpa inicia a fase de beneficiamento. Realizado nas próprias fazendas, o beneficiamento inicia com a fermentação alcoólica das amêndoas.
Essa etapa geralmente acontece dentro de caixas, em um ambiente controlado. Após cerca de sete dias, toda a polpa some, restando apenas as amêndoas de coloração escura. A remoção da polpa também produz o mel de cacau, um líquido que escorre das caixas.
A seguir, as sementes vão para a segunda etapa do beneficiamento: a seca.
Esse processo costuma acontecer nas barcaças, que parecem casas com teto móvel. Dentro delas, as amêndoas ficam espalhadas em bandejas, que são expostas ao sol. A seca dura em torno de uma semana, dependendo das condições climáticas. Em dias de chuva, estufas aceleram o processo.
Então, a amêndoa do cacau está pronta para virar ingrediente e ferramenta da criatividade dos cozinheiros, sendo consumida na forma de nibs, cacau em pó ou barras.
Além disso, elas também se transformam em incontáveis tipos de doces, biscoitos, bolos, sorvetes e bebidas! Qual a sua forma favoritas de consumir o chocolate, heim?
O primeiro registro histórico do cacau baiano data de 1655 e, em 1746, foram realizados os primeiros cultivos de cabruca no sul da Bahia. Desde então, esse sistema é utilizado na região por mais de 200 anos!
No início do século 20, o cacau já foi o produto de exportação mais importante do estado. De fato, o sucesso foi tanto que, nos anos 70, grandes indústrias multinacionais de chocolate desembarcaram na região.
Logo, cargas de cacau saíram da Bahia rumo aos Estados Unidos, fazendo do país o maior produtor do mundo. Em 1986, o estado chegou a colher, sozinho, quase 90% da produção de cacau brasileira!
Então, quando olhamos para o passado, fica fácil de ver que o cacau já tornou muitas pessoas ricas. Da noite para o dia, um fruto dourado transformou lavradores simples em verdadeiros coronéis da cabruca.
De fato, foi desse momento histórico que surgiu a expressão “ele é cheio do cacau”, usada como sinônimo de “endinheirado”.
Porém, mais de 200 anos de cultivo de cacau na floresta quase desapareceram por conta de uma doença chamada vassoura-de-bruxa, causada por um fungo.
O resultado? Noventa e três municípios atingidos, trinta mil fazendeiros falidos e a produção baiana caindo em 75%!
Ao todo, 250 mil empregos foram perdidos, provocando a migração de 800 mil pessoas para as cidades, o que gerou incontáveis problemas sociais. Muitos chefes de família se suicidaram.
Por fim, o destino de quase 3 milhões de pessoas, que até então parecia conectado aos pés de cacau, mudou para sempre.
Assim, a Bahia perdeu seu posto de maior produtor nacional de cacau, sendo superada pelo Pará. Aliás, até hoje, a vassoura-de-bruxa ainda compromete cerca de 10% da produção anual de cacau.
Muitos afirmam que a introdução da vassoura-de-bruxa na Bahia tenha sido criminosa. De fato, essa foi a conclusão da Polícia Federal ao concluir um inquérito sobre o assunto, em 2006. Porém, ninguém identificou os culpados.
Por fim, a história toda deu origem ao documentário “O Nó – Ato Humano Deliberado”, disponível no Youtube. Assista aqui:
Apesar da situação trágica e desesperadora gerada pela vassoura-de-bruxa, a cabruca resistiu.
Inclusive, há uma grande movimentação para que rituais tradicionais, como a quebra do cacau e o manejo familiar do fruto, não se percam.
De fato, os guardiões mais dedicados dessas práticas são as comunidades indígenas, quilombolas e de agricultores familiares (muitos deles, vivendo em assentamentos de reforma agrária).
É o caso da comunidade Tupinambá que cultiva cacau orgânico na Serra do Padeiro, em Buerarema (BA), ou dos agricultores do assentamento Terra Vista, em Arataca (BA), que é ligado ao Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST).
Inclusive, o Assentamento Terravista é a sede da Teia do Povos, uma articulação de movimentos sociais do Sul da Bahia que busca garantir o desenvolvimento econômico baseado em agroecologia e a sobrevivência do bioma local.
Então, lutar pela manutenção do sistema de cabruca não apenas fortalece a tradição cultural desses povos, como os mantém como verdadeiros guardiões do bioma Mata Atlântica!
O sul da Bahia é uma região que tem cacau há 250 anos. Porém, historicamente, o agricultor dificilmente conhecia o sabor do chocolate feito com o cacau que ele colhia.
A verdade é que, quando olhamos para os acontecimentos históricos, o glamour do chocolate logo fica para trás.
Em resumo, conforme o consumo de chocolate crescia em países da Europa e nos Estados Unidos, a coroa portuguesa viu no Sul da Bahia uma grande oportunidade de investimento.
Então, com a transição da economia açucareira para a cacaueira, veio a mudança do trabalho escravo para um “trabalho assalariado”.
O problema? O valor do salário! Em 2007 (ou seja, pouquíssimos anos atrás), um agricultor ganhava cerca de dez reais por dia para cuidar da roça de cacau de um fazendeiro, das 7h às 16h, sem carteira assinada.
Para piorar, era proibido plantar qualquer outro tipo de alimento para consumo. Até mesmo os alimentos que nasciam espontaneamente podiam apodrecer no chão, mas os trabalhadores não podiam comer.
Por isso, mesmo quebrando cacau o dia todo, muitos agricultores não podiam consumir o fruto, sob pena de sofrer desconto no “salário”. Aliás, havia uma marcação cerrada dos funcionários da fazenda, para garantir que isso não acontecesse.
Porém, tudo mudou quando eles tomaram posse, de forma legalizada, de terras improdutivas que foram destinadas pela reforma agrária. Juntos, os produtores transformaram solos pobres e inférteis em cabrucas.
De fato, essas áreas geraram 4 vezes mais lucro por hectare que a plantação de cacau no modelo convencional!
Assim, quem compra cacau cabruca, consome um produto que beneficia a natureza, respeita as pessoas, gera renda e faz uma verdadeira reparação histórica.
Hoje em dia, as comunidades de agricultores não apenas plantam e colhem cacau. Elas podem comê-lo.
Nos assentamentos, os agricultores não apenas podem usar o cacau para consumo próprio, como o vendem em feiras livres, sob a forma de geleias, licores e cocadas, complementando a renda.
Além disso, o salário mudou muito. Por exemplo, a média salarial de um agricultor que vive no Assentamento Dois Riachões passou de R$ 246, em 2008, para R$ 2 mil, em 2019. O assentamento faz parte do Movimento Estadual de Trabalhadores Assentados, Acampados e Quilombolas (Ceta).
Atualmente, a comunidade conta com a “Escola da Floresta” (relacionada ao bioma Mata Atlântica e seus sistemas agroflorestais), a “Escola das Águas” (relacionada aos terreiros de candomblé e com a cultura africana); a “Escola do Arco e Flecha” (relacionada às comunidades indígenas); e a “Escola É do Chocolate” (que representa a produção de cacau).
Inclusive, dentro da comunidade, uma pequena fábrica de produção de chocolate, liderada pelos filhos de agricultores, fortalece a cultura local.
Esse novo modelo de negócio, que tem apenas cerca de 20 anos, dá ao agricultor um grande controle sobre a produção do cacau. Um controle que, no passado, foi intencionalmente removido: com cada família fazendo apenas uma parte do produção, para que não soubesse como proceder nas demais etapas, os agricultores estavam sempre dependendo dos patrões.
Hoje, com essa nova forma de trabalhar na cabruca (chamada de “verticalização”), o agricultor finalmente ganhou protagonismo no processo, produzindo do fruto até o chocolate! Inclusive, no assentamento, todos os trabalhadores fazem cursos de capacitação para trabalhar melhor na cabruca.
A história da comunidade é contada no minidocumentário “Dois Riachões, Cacau e Liberdade” (duração de 10 m inutos). Assista aqui:
Tanto trabalho não passou despercebido por movimentos que valorizam boas iniciativas socioambientais.
Assim, o assentamento Dois Riachões foi certificado pelo movimento Slow Food, que incentiva o consumo de comida saudável, sustentável e que preserve tradições locais.
Além disso, possui Selo de Indicação Geográfica Sul da Bahia, que endossa a qualidade do cacau.
Hoje, esses produtores focam no plantio de uma variedade de cacau local e ancestral – e não em variedade híbridas ou clonadas, que são comuns na região.
Com todo esse esforço e reconhecimento, o sistema cabruca começou a receber uma remuneração acima da média de mercado.
Por isso, graças ao esforço de produtores e ambientalistas, o cacau de cabruca baiano virou uma iguaria de alto valor.
De fato, enquanto uma tonelada de cacau comum é vendida na Bolsa de Nova York por cerca de US$ 3 mil, produtores de cacau fino conseguem até US$ 5.500 pela tonelada!
Então, embora a produção gourmet seja pequena (só 1% do mercado brasileiro), compensa financeiramente.
Alguns especialistas já afirmam que, ampliando a produção de cacau cabruca (e o diálogo entre todos os elos da cadeia do chocolate), o Brasil poderia produzir se tornar autossuficiente nas suas demandas internas de chocolate (que, hoje, vem da África).
Apesar de lucrativo, o sistema de cacau a pleno sol, sem árvores, é mais suscetível a pragas. Além disso, só é viável com taxas altíssimas de produtividade.
Por outro lado, com o manejo correto da cabruca é possível ter um bom retorno, mesmo que seja um pouco menor. De quebra, a biodiversidade presente neste sistema funciona como barreira de proteção contra as doenças comuns às lavouras. Assim, felizmente, os investimentos e linhas de crédito para o cacau cabruca está lentamente crescendo.
No entanto, assim como a própria Mata Atlântica, esse modelo de produção segue ameaçado de extinção pela monocultura de cacau a pleno sol e pelos grandes latifúndios de monoculturas de eucalipto, café e pecuária extensiva, que levam à queima, desmatamento e substituição da cabruca.
Além da produção de chocolate, o potencial turístico da cabruca é imenso. Afinal, a Bahia é o único lugar do planeta com florestas de chocolate!
A história do cacau da região é secular, com um grande legado cultural e histórico, divulgado por autores nacionais de prestígio, como Jorge Amado. Inclusive, a região do sul do estado é conhecida como Região do Cacau, sendo considerada a melhor terra do mundo para plantar o fruto!
Além disso, o cacaueiro em si é uma árvore muito bela, que atrai os turistas. Medindo de 4 a 8 metros de altura, ele possui folhas longas, de aproximadamente 30 centímetros. E, seus frutos são imensos: medem entre 15 e 30 centímetros de comprimento, com um circunferência que pode chegar até 12 centímetros!
Com todo esse contexto histórico, econômico e estético, grande parte do turismo local segue sendo à base de cacau e de chocolate. Assim, de visitas guiadas à degustação de chocolates finos locais, o roteiro do turismo gastronômico traz muitas pessoas para perto da Mata Atlântica baiana!
A maior parte dos fatores que influenciam o sabor de um chocolate não dependem do chocolate maker, que é a pessoa que transforma as amêndoas de cacau em chocolate. Na verdade, essas etapas acontecem nas fazendas!
São questões como genética, fermentação e secagem dos grãos. Por isso, é muito importante conhecer esse processo e quem o faz!
Um ótimo exemplo de chocolate de qualidade produzido na cabruca e comercializado a um preço acessível é o Chocolate Sul Bahia.
Ele é produzido na fábrica do Centro de Inovação Cacau/Universidade Estadual de Santa Cruz-UESC, em parceria com a Indicação Geográfica (IG) Cacau Sul da Bahia e suas cooperativas.
Além disso, o Cacau Sul da Bahia é parceiro da Iniciativa para Conservação do Mico-Leão-Baiano/Projeto Bio Brasil e o Laboratório de Ecologia de Conservação da Uesc. Assim, 3% do valor das vendas vai para o programa de conservação do mico-leão-da-cara-dourada, também conhecido como mico-leão-baiano.
Aliás, essa espécie só existe no Sul da Bahia, pode ser encontrada nas cabrucas da região. Inclusive, para esse mico símbolo do local, as cabrucas são uma grande parte da sua distribuição geográfica, inclusive unindo populações de micos-leões baianos que vivem em fragmentos de Mata Atlântica. Que legal, né?
Ficou curioso para provar o sabor da cabruca? Então, além do Chocolate Sul da Bahia, veja essa lista de outras marcas que apóiam o chocolate sustentável:
Nugali Chocolates;
Native Orgânicos;
Mendoá Chocolates;
Espírito Cacau;
Dengo Chocolates;
Kalapa Chocolates;
AMMA Chocolates;
O Chocolate da Mata;
Majucau;
La Barr;
Luzz Cacau;
Ambar Chocolate;
Chocolate Terra à Vista;
2 Riachões;
Floré Cacau;
Bragança Chocolates;
Jú Arléo Chocolates;
Modaka Cacau;
Abuelitas Cacau;
Mestiço Chocolates.
Qual delas você vai querer conhecer primeiro? A Mata Atlântica agradece!