Choquinha-de-alagoas, ave que somente ocorre no nordeste do Brasil, está prestes a desaparecer
Publicado por parquedasaves em 06/05/2024
Atualizado em 7 de novembro de 2024
Tempo de leitura: 4 minutos
Por SAVE Brasil e Parque das Aves
Um estudo recentemente publicado mostra que a choquinha-de-alagoas, ave endêmica do nordeste do Brasil, está à beira da extinção. Uma equipe da SAVE Brasil e do Parque das Aves vem monitorando a espécie e trabalhando para protegê-la desde 2016, e registrou um declínio enfático ao longo desses anos. As medidas de conservação realizadas – incluindo a proteção de ninhos, esforços para estabelecer métodos de reprodução sob cuidados humanos e melhor proteção da floresta – têm sido insuficientes para deter o declínio.
A choquinha-de-alagoas é uma ave pequena que caçava insetos no sub-bosque sombreado da Mata Atlântica em Alagoas e Pernambuco. Nos últimos 25 anos, segundo o estudo, ela desapareceu de todos os locais onde era encontrada em Pernambuco e agora se mantém apenas na Estação Ecológica de Murici, em Alagoas. O número de indivíduos contados em Murici diminuiu de 18 em 2016-17 para apenas seis em 2022-23. A partir deste ano, o total, que chegou tarde demais para ser incluído no artigo, foi de apenas quatro aves.
Os pesquisadores atribuem seu declínio ao desmatamento histórico generalizado nos dois estados e apontam outras causas de declínio, incluindo populações elevadas de predadores de ninhos, como cuícas e serpentes, provavelmente o resultado da caça excessiva e degradação da floresta. Mesmo dentro da Estação Ecológica, a espécie não está segura, pois a unidade de conservação nunca chegou a ser regularizada. Dos cinco ninhos encontrados e monitorados pela equipe, quatro falharam, a maioria por causa da predação.
“A choquinha-de-alagoas é mais uma vítima do desmatamento em massa e da degradação florestal que vem ocorrendo em toda a Mata Atlântica, especialmente no nordeste”, disse Hermínio Vilela, biólogo da SAVE Brasil e primeiro autor do artigo.
O artigo descreve os esforços para proteger os ninhos, instalando barreiras que impedem que os predadores os alcancem. No entanto, esses esforços não foram suficientes para interromper o declínio. As tentativas de desenvolver métodos de reprodução sob cuidados humanos, com outras espécies mais comuns de choquinhas, não foram bem-sucedidas.
“Existem mais de 200 espécies na família das choquinhas e chocas, mas nenhum zoológico do mundo conseguiu sustentar uma população de qualquer uma delas”, diz Ben Phalan, do Parque das Aves e coautor do estudo. “Estamos trabalhando com uma espécie modelo que, em teoria, é menos exigente do que a choquinha-de-alagoas, mas, mesmo nesse caso, ainda não conseguimos reproduzi-las. Simplesmente não sabemos o suficiente para estabelecer uma população sob cuidados humanos dessas aves insetívoras especialistas.”
Embora o futuro da choquinha-de-alagoas não pareça promissor, a equipe prometeu lutar até o fim, fazendo tudo o que puder para tentar salvar a espécie.
“Já perdemos o limpa-folha-do-nordeste, o gritador-do-nordeste e o caburé-de-pernambuco. O mutum-de-alagoas possui uma população sob cuidados humanos, mas está extinto na natureza. Sabemos que as chances são pequenas, mas não podemos abandonar a choquinha-de-alagoas”, disse Pedro Develey, da SAVE Brasil e coautor do estudo.
“A Estação Ecológica de Murici é uma das áreas mais importantes para a biodiversidade no nordeste do Brasil“, disse Vilela. “Além de ser o último local de ocorrência da choquinha-de-alagoas, é o único lar da jararaca-de-murici, de anfíbios raros e endêmicos, de invertebrados e plantas únicos. Precisamos cuidar dessa área para proteger todo esse patrimônio natural.”
“Mesmo após várias extinções, Murici continua sendo o único local com número maior de aves criticamente em perigo de extinção no país”, disse Develey. “O local abriga outras 16 espécies de animais e plantas que não são encontradas em nenhum outro lugar do mundo. A SAVE Brasil está trabalhando para restaurar e reconectar as florestas na região, para oferecer um futuro melhor para todas essas espécies.”
O Parque das Aves, um centro de resgate, abrigo e conservação de aves da Mata Atlântica e o atrativo mais visitado de Foz do Iguaçu depois das Cataratas, completa 30 anos de atuação em 2024. Como é uma instituição privada, os visitantes promovem a continuidade do trabalho do atrativo através da visita ao Parque, consumo nos restaurantes do Complexo Gastronômico e compras na Loja de souvenirs.