4 peixes da Mata Atlântica que estão ameaçados de extinção
Publicado por parquedasaves em 25/02/2020
Atualizado em 21 de agosto de 2024
Tempo de leitura: 6 minutos
Por: Dr. Pedro Pereira Rizzato, do Laboratório de Ictiologia de Ribeirão Preto/SP
A América do Sul é a região mais rica em peixes de água doce do mundo. Estima-se que mais de 4.000 espécies de peixes vivem nos rios e riachos da região. Boa parte dessa diversidade pode ser encontrada na Mata Atlântica, um dos biomas mais diversos e ameaçados do planeta.
São conhecidas cerca de 270 espécies de peixes de água doce na Mata Atlântica, mas esse número pode ser ainda maior, pois muitas espécies ainda não foram descobertas ou descritas pela ciência. Embora a fauna de peixes da Mata Atlântica seja mais conhecida que a dos demais biomas, por ser nesta região que vivem a maior parte dos brasileiros, há muitos locais que ainda não foram suficientemente estudados pelos pesquisadores, e que podem abrigar ainda mais espécies.
Para que você possa conhecer um pouco mais sobre essa diversidade, listamos 4 espécies de peixes de água doce da Mata Atlântica que estão ameaçadas de extinção.
Nome popular: Essa espécie ainda não possui um nome popular!
Nome científico: Glandulocauda caerulea
Categoria de ameaça: Em Perigo de Extinção (EN)
Algumas espécies de peixes de riacho da Mata Atlântica são pouco conhecidas pela maioria das pessoas. A espécie Glandulocauda caerulea nem mesmo tem um nome popular, sendo geralmente confundida com várias espécies de lambaris ou piabas. Essa espécie ocorre na bacia do Rio Iguaçu, o maior rio do estado do Paraná, e é considerada como Em Perigo de Extinção.
Nome popular: Lambari
Nome científico: Rachoviscus graciliceps
Categoria de ameaça: Em Perigo de Extinção (EN)
Conhecida simplesmente como lambari, a espécie Rachoviscus graciliceps ocorre em rios costeiros na região sul do estado da Bahia. A espécie é considerada como Em Perigo de Extinção.
Nome popular: Limpa-fundo
Nome científico: Scleromystax macropterus
Categoria de ameaça: Em Perigo de Extinção (EN)
A espécie Scleromystax macropterus, conhecida por muitos como limpa-fundo, ocorre em rios costeiros no litoral dos estados de São Paulo, Paraná e Santa Catarina. É considerada como Em Perigo de Extinção.
Nome popular: Lambari-azul-listrado
Nome científico: Mimagoniates lateralis
Categoria de ameaça: Vulnerável à Extinção (VU)
Conhecido popularmente como lambari-azul-listrado, a espécie Mimagoniates lateralis ocorre em rios costeiros no litoral dos estados de São Paulo, Paraná e Santa Catarina. É considerada Vulnerável à Extinção.
As categorias de extinção indicadas acima são escolhidas pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), de acordo com o Plano de Ação Nacional para a Conservação de Peixes e Eglas da Mata Atlântica.
Você conhece alguns desses peixes? Algum deles ocorrem na região onde você vive?
Além de muito rica, a fauna de peixes da Mata Atlântica é também muito especial porque inclui muitas espécies endêmicas, isto é, espécies que são exclusivas de algumas localidades dentro da área desse bioma tão importante! O grande número de espécies endêmicas tem a ver com o fato da Mata Atlântica se estender por vários estados do Brasil, abrangendo diversas bacias hidrográficas independentes. Em geral, em cada uma dessas bacias os rios nascem em regiões altas e montanhosas e correm em direção à costa, desaguando diretamente no mar. Isso faz com que se formem ao longo desse percurso uma série de cachoeiras e outros tipos de quedas d’água que funcionam como barreiras, formando micro ambientes isolados e separando as diferentes populações de peixes .
Essas condições favoreceram o surgimento de várias espécies isoladas em regiões específicas, e contribuiu para isso também o fato de a maioria das espécies de peixes de riacho da Mata Atlântica serem de pequeno porte (menos de 20 cm de comprimento), o que dificulta que se espalhem muito pelos corpos d’água.
Essas características da Mata Atlântica representam desafios para a conservação ambiental, porque para garantir que as espécies de peixes de riacho sejam protegidas, é preciso que os esforços de conservação sejam espalhados pelas diferentes regiões do bioma. Infelizmente, porém, o fato de ser na Mata Atlântica que vive a maior parte da população brasileira também faz desse bioma um dos mais ameaçados. As principais ameaças para os peixes-de-água-doce da Mata Atlântica são:
Desmatamento, principalmente próximo às nascentes, e a retirada das matas ciliares (matas que estão presentes nas margens dos rios e riachos).
Intervenções sem planejamento nos corpos d’água para irrigação, indústria, abastecimento urbano ou construção de usinas hidrelétricas.
Poluição das águas, incluindo esgoto urbano não tratado e rejeitos da indústria e da mineração.
Introdução de espécies exóticas (peixes que não são nativos da Mata Atlântica), como a tilápia-do-nilo (Oreochromis niloticus) ou o bagre-africano (Clarias gariepinus). Essas espécies introduzidas pelo homem competem com os peixes da Mata Atlântica por alimento e abrigo.
1 – Apoiar a criação e manutenção de áreas protegidas (como parques nacionais e estaduais, reservas e florestas nacionais). Você pode fazer isso elegendo representantes políticos que as defendam, participando de audiências públicas e visitando esses locais, o que incentiva a sua proteção por conta do potencial turístico.
2 – Incentivar iniciativas de reflorestamento da Mata Atlântica! Você pode fazer doações a projetos que recuperam áreas de mata nativa degradadas aqui, aqui e aqui.
3 – Recusar a compra e o consumo de peixes que estão ameaçados de extinção. Dê preferência para espécies pescadas de forma artesanal, criadas por produtores locais e cujo cultivo é feito de de maneira ambientalmente responsável.
4 – Economizar energia elétrica! Já que o impacto das hidrelétricas sobre os peixes é imenso, devemos utilizar esta energia de forma sábia. Para isso, prefira eletrodomésticos mais econômicos, desligue equipamentos em stand by e luzes desnecessárias, e substitua lâmpadas incandescentes por lâmpadas fluorescentes ou de LED.
Agradecimentos:
Agradecemos ao Prof. Dr. Ricardo M. C. Castro (FFCLRP-Universidade de São Paulo), coordenador do Plano de Ação Nacional para a Conservação dos Peixes e Eglas da Mata Atlântica, pelas fotos.